Por que invocar São Bento contra o mal? Porque ele soube enfrentá-lo com discernimento, oração e coragem. E nos deixou um legado espiritual que continua a iluminar os caminhos da Igreja e da vida cristã até hoje.
Nascido por volta do ano 480, na cidade de Núrsia, na Itália, São Bento cresceu em uma época de grande instabilidade: o Império Romano desmoronava sob invasões bárbaras, a vida social estava em crise, e os valores espirituais pareciam sufocados por um mundo entregue ao egoísmo e à decadência moral. Enviado a Roma para estudar, ele logo percebeu que ali não encontraria o que realmente buscava. Decidiu, então, abandonar tudo e se retirar para uma vida de silêncio, oração e solidão numa gruta nas montanhas da Úmbria. Esse gesto simples foi o começo de uma revolução espiritual.
Bento queria apenas Deus. E, por isso mesmo, atraiu tantos corações. Sua santidade não consistia em milagres extraordinários ou discursos eloquentes, mas em uma vida coerente, austera, centrada no Evangelho. Seu exemplo arrastou outros que, como ele, buscavam algo mais do que o mundo podia oferecer. Assim nasceu a vida monástica no Ocidente, e São Bento tornou-se seu pai e mestre.
Quando deixou a gruta, por volta dos 40 anos, fundou o Mosteiro de Monte Cassino, onde escreveu a célebre Regra de São Bento, que até hoje guia a vida de milhares de monges e leigos. Mais que um conjunto de normas, essa Regra é um verdadeiro caminho de sabedoria e equilíbrio. Seu lema — Ora et labora (Reza e trabalha) — resume a síntese perfeita entre a contemplação e a ação, entre o amor a Deus e o serviço aos irmãos. Na espiritualidade beneditina, o tempo não se perde: tudo é santificado pela presença de Deus.
A Regra de São Bento também nos ensina que o verdadeiro discípulo é aquele que escuta. Por isso, o primeiro verbo da Regra é: “Escuta, ó filho, os preceitos do Mestre”. Em um mundo barulhento como o nosso, essa exortação é mais atual do que nunca. Escutar é a porta de entrada da sabedoria. Quem não sabe escutar, não aprende, não amadurece, não serve.
São Bento também enfrentou o mal de maneira concreta. Certa vez, os monges de um mosteiro, incomodados com seu rigor evangélico, tentaram envenená-lo. Quando ele abençoou a taça com o sinal da cruz, ela se partiu. Esse episódio mostra que o
combate espiritual é real, e que o cristão precisa estar vigilante, firme na fé e revestido com as armas da oração. A vida de São Bento é uma verdadeira escola de combate interior — não com ódio ou violência, mas com humildade, jejum, silêncio e confiança no poder da cruz.
Foi nesse espírito que surgiu a Medalha de São Bento, aprovada oficialmente pelo Papa Bento XIV em 1742. Mais do que um objeto de devoção, ela é um verdadeiro resumo da espiritualidade beneditina: fé no Cristo crucificado, rejeição ao mal, confiança na proteção divina e compromisso com a paz. As inscrições da medalha nos recordam o combate espiritual diário:
“A cruz sagrada seja a minha luz, não seja o dragão o meu guia. Retira-te, Satanás, nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos!”
Essas palavras são uma oração poderosa. Não apenas contra males visíveis, mas contra o que corrói a alma: o orgulho, o egoísmo, a vaidade, o desânimo. Usar a medalha com fé é um gesto de quem deseja, com toda a alma, que o bem vença em sua vida.
Hoje, mais do que nunca, precisamos redescobrir o espírito de São Bento. Seu amor ao silêncio, sua sobriedade, sua disciplina, sua humildade, sua fidelidade à oração e ao trabalho são remédios para uma sociedade adoecida pela pressa, pelo ruído e pela superficialidade. Bento ensina que é possível viver com simplicidade e profundidade, com ordem e paz, com fé e responsabilidade.
Muitos rezam a oração de São Bento com a medalha em mãos, pedindo proteção para o lar, para os filhos, para o trabalho. E de fato, esse gesto simples, feito com fé, é um ato de confiança e entrega. Abaixo, uma jaculatória tradicional que pode ser rezada com a família, diante da porta da casa:
“São Bento, água benta, Jesus Cristo no altar, que todo o mal saia desta casa, para eu poder morar.”
Ou, no ambiente profissional:
“São Bento, água benta, Jesus Cristo no altar, que todo o mal saia desta empresa, para que todos possam trabalhar.”
São Bento faleceu em 547, depois de anunciar que seu fim estava próximo. Morreu em pé, com os braços erguidos ao céu, apoiado por seus irmãos monges. Foi canonizado em 1220 e, em 1964, proclamado Padroeiro da Europa por São Paulo VI, em reconhecimento à sua influência decisiva na formação espiritual e cultural do continente.
Neste 11 de julho, dia de São Bento, invoquemos sua intercessão com confiança. Que ele nos ajude a resistir ao mal, a buscar a paz interior, a ordenar nossa vida segundo o Evangelho. E que a cruz, como ele sempre ensinou, seja nossa luz, nossa força e nossa vitória.
São Bento, rogai por nós!
Padre Wagner Augusto Portugal
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