“Deus habita em seu templo santo, reúne seus filhos em sua casa; é ele que dá força e poder a seu povo” (cf. Sl. 67,6s.36)
Meus queridos Irmãos,
Este domingo é voltado totalmente para o modo e o jeito de rezar de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim nosso relacionamento espiritual para com a Santíssima Trindade é evidenciada nesta liturgia, quando pediremos e receberemos do Senhor da Vida e da História. Aquele que sustenta todo ser deve, também, sustentar a nossa vida cotidiana. Jesus nos ensinou a pedir e a suplicar, até com insistência. Fala de uma viúva que pede, pede até cansar o juiz; de um vizinho que bate, à noite, até que o dono se levanta para se ver livre dele, conforme nos ensina o Evangelho. Faz pensar em Abraão, que, ao rezar por Sodoma e Gomorra, conforme a primeira Leitura, se lê a lição de Deus: “Não podes perder os justos com os injustos, é uma questão de honra!” E Deus atende: “Cada vez que te invoquei, me deste ouvido”, reza o Salmo Responsorial, Salmo 138.
Caros
irmãos,
A Primeira Leitura (cf. Gn 18,20-32)
nos apresenta a oração de Abraão por Sodoma e Gomorra. O pecado de Sodoma e
Gomorra clama ao céu, mas Deus não pode julgar conforme os muitos injustos,
porém, deve poupar a cidade por causa de poucos justos: é o que lhe pede
Abraão. É uma questão de honra para Deus. O Juiz do mundo (Gn 18,25) é também
amigo, o Pai (cf. Lc. 11,8). Se poucos justos lhe são suficientes (embora não
os houvesse em Sodoma) para salvar muitos, a vida de um justo, seu Filho,
salvará a todos.
O diálogo entre Abraão e Deus a propósito de Sodoma confirma esse Deus da comunhão, que vem ao encontro do homem, que entra na sua casa, que Se senta à mesa com ele, que escuta os seus anseios e que lhes dá resposta; e mostra, além disso, um Deus cheio de bondade e de misericórdia, cuja vontade de salvar é infinitamente maior do que a vontade de condenar. É esse Deus “próximo”, cheio de amor, que quer vir ao nosso encontro e partilhar a nossa vida que temos de encontrar: só será possível rezar, se antes tivermos descoberto este “rosto” de Deus. A “oração” de Abraão é paradigmática da “oração” do batizado: é um diálogo com Deus – um diálogo humilde, reverente, respeitoso, mas também cheio de confiança, de ousadia e de esperança. Não é uma repetição de palavras ocas, gravadas e repetidas por um gravador ou um papagaio, mas um diálogo espontâneo e sincero, no qual o batizado se expõe e coloca diante de Deus tudo aquilo que lhe enche o coração.
Irmãos
e Irmãs,
A Palavra de Deus afirma a absoluta centralidade de Cristo na nossa experiência cristã. É por Ele – e apenas por Ele – que o nosso pecado e o nosso egoísmo são saneados e que temos acesso à salvação – quer dizer, à vida nova do Homem Novo. É nisto que reside o fundamental da nossa fé e é à volta de Cristo (da sua vida feita doação, entrega, amor até a morte) que se deve centralizar a nossa existência de cristãos. Ao denunciar a atitude dos Colossenses (mais preocupados com os poderes dos anjos e com certas práticas e ritos do que com Cristo), São Paulo nos adverte para não nos deixarmos afastar do essencial por aspectos secundários. O critério fundamental, no que diz respeito à vivência da nossa fé, deve ser este: tudo o que contribui para nos levar até Cristo é bom; tudo o que nos distrai de Cristo é dispensável.
Caros fiéis,
Jesus hoje – Evangelho de Lucas
11,1-13 – nos ensina que o amor ao próximo e o amor a Deus vivem-se em
comunidade orante. Três pilastras do cristão, que nunca sabemos se acabam sendo
uma só ou se é possível distingui-las: a oração, a escuta da Palavra e a ação
missionária. Elas são simultâneas e se exigem.
Não há santo que não tenha sido
pessoa de oração. Tanto o cristão individualmente quanto à comunidade são, por
definição, orantes. Quando Paulo escrevia aos tessalonicenses: “Orai sem interrupção” (cf. 1Ts 5,17), ou aos romanos: “Sede perseverantes na oração” (cf. Rm 12,12), estava falando do
estado e vida normal dos cristãos.
Jesus nos ensinou a orar, a começar
pelos seus apóstolos que com ele aprenderam a rezar. Embora tenha ensinado no
Evangelho de hoje uma fórmula, não está na fórmula a oração. Porque a oração é
uma atitude do ser humano em conversa com Deus. O próprio Jesus recordou-nos
que a oração não está nas palavras: “Nas
orações não faleis muitas palavras como os pagãos. Eles pensam que serão
ouvidos por causa das muitas palavras. Não o imiteis” (cf. Mt 6,7-8).
Meus prezados amigos,
A oração requer a escuta da Palavra
de Deus. Muitas vezes escutamos as nossas próprias necessidades, ideologias e
vaidades e esquecemos de nosso contacto com Deus mesmo. Oração que vem junto da misericórdia, que rezamos
há dois domingos.
Jesus rezou em lugares públicos e no
deserto. Jesus e o Pai. Jesus na sua intimidade da oração, quando reza pelos
Apóstolos, por Pedro, por aqueles que o perseguem. Hoje vemos Jesus como homem
de intimidade profunda na oração, como o mestre que oferece a comunidade um
verdadeiro catecismo sobre a oração. E é Lucas o Evangelista que recolhe uma
série de textos usados pelas primeiras comunidades cristas, como o Magnificat,
o Cântico de Zacarias, o Cântico de Simeão, o Canto dos Anjos, o Hino de Jesus
de louvor ao Pai e o Pai Nosso.
Jesus nos pede uma oração constante.
A nossa oração deve ser insistente, perseverante e contínua. O Pai Nosso nos é
dito o que devemos pedir. A parábola nos ensina como devemos pedir. Cada um dos
verbos empregados tem seu sentido. O verbo pedir, por exemplo, pressupõe o
reconhecimento de que somos pobres e necessitados. O verbo procurar marcar um
dos temas que volta na Escritura todas as vezes que a criatura se coloca diante
de Deus e do destino eterno que a espera. Poderíamos dizer que somos um ser à
procura. Jesus sabe disso e diz que a procura não é vã para os que crêem. No
fim da procura encontramos quem e o que procuramos: a divindade perdida, a
participação nas coisas divinas, a convivência eterna com Deus numa só família.
Caros irmãos,
O Evangelho de Lucas sublinha o espaço significativo que
Jesus dava, na sua vida, ao diálogo com o Pai – nomeadamente, antes de certos
momentos determinantes, nos quais se tornava particularmente importante o
cumprimento do projeto do Pai. A forma como Jesus Se dirige a Deus mostra a
existência de uma relação de intimidade, de amor, de confiança, de comunhão
entre Ele e o Pai (de tal forma que Jesus chama a Deus “papá”); e Ele convida
os seus discípulos a assumirem uma atitude semelhante quando se dirigem a Deus.
O “Pai Nosso” é a única oração que Jesus
ensinou aos seus discípulos. É também a própria oração de Jesus. “Senhor,
ensina-nos a rezar”. Como ensinar os outros a rezar, se nós próprios não
rezamos? Jesus foi buscar à sua experiência a oração que deu aos seus
discípulos. Assim, dizemos palavras que o próprio Jesus diz conosco. A sua
oração e a nossa oração são uma única e mesma súplica. Jesus está sempre vivo
para interceder em nosso favor. Cada dia, Jesus reza conosco a seu Pai e nosso
Pai. Hoje, coloca-se o acento numa oração de louvor e ação de graças. A oração
de pedido não é tão valorizada. Porém, a oração que Jesus ensina aos seus
discípulos é, antes de mais, uma oração de pedido. O verbo “pedir” aparece seis
vezes na passagem de hoje (ver no Evangelho). A experiência parece dizer que os
nossos pedidos não são atendidos. Mas Jesus dá-nos uma chave de leitura: é o
Espírito Santo que o Pai nos quer dar, o Amor infinito. Trata-se, portanto, de
pedir, antes de mais, que este Amor infinito nos modele cada vez mais
profundamente, para que aprendamos a ver como Deus nos vê, a amar como Ele nos
ama. Ora, entrar numa aventura de amor exige paciência, e também renúncia a nós
mesmos para nos abrirmos cada vez mais ao outro. Na realidade, aí está todo o
sentido da nossa vida. Nós somos muitas vezes impacientes, ficamos no imediato,
na superfície das coisas. Deus olha o coração, vai além das aparências, numa
confiança total. Caminho exigente, este que nos conduzirá para além de nós
próprios, até à Casa do Nosso Pai.
A oração de
Abraão é paradigmática para todos os fiéis, por constituir um diálogo com Deus
na humildade, na confiança e na reverência à transcendência divina. Não é uma
repetição de fórmulas que sabemos desde a infância. É um diálogo sincero,
espontâneo, no qual expomos a Deus nossas profundas necessidades, petições e
louvor. Em minhas orações, como me coloco diante de Deus?
São Lucas nos
mostra como a oração ocupava um lugar essencial na vida de Jesus e de seus
discípulos. Antes de tomar decisões importantes, Jesus passava noites em
oração. Ele estava sempre em diálogo com o Pai. Seus discernimentos eram feitos
em momentos de longas orações, na busca contínua da vontade do Pai. Que espaço
a oração ocupa em minha vida? Como coloco diante do Senhor os acontecimentos
que me preocupam? Quais são as inspirações da atitude de Abraão e de Jesus para
melhorar meu diálogo com o Pai? Minha oração é um encontro amoroso de diálogo
com Deus ou de negociação a partir de meus interesses? Apenas de promessas: se
recebo isso, ofereço aquilo? O que Jesus ensina é fazer da oração um encontro
com o Pai misericordioso, a quem amo e com quem partilho minhas preocupações,
sonhos e esperanças.
Diálogo com Deus. Abraão demonstra que a oração é um
diálogo que se traduz em confiança e ousadia. Como podemos interceder pelos
outros, através do nosso testemunho, com a mesma coragem e fé?
A nova vida em Cristo. O batismo é o ponto de partida
para o conhecimento mais aprofundado no seguimento de Jesus. Estamos vivendo de
acordo com essa iniciativa que vem do Reino de Deus?
Perseverança na oração. Jesus nos convida a buscar com
insistência. Como nossa vida de oração reflete a confiança em vivermos no
projeto de Jesus e por meio dele?
As leituras de hoje nos apresentam a oração como parte essencial do plano do projeto de Jesus. Abraão nos ensina a interceder com coragem; Paulo nos lembra da graça que recebemos em Cristo; e Jesus nos convida a confiar plenamente no amor e na bondade do Pai por meio de seu projeto de amor. Que possamos, inspirados por essas palavras, renovar nosso compromisso com a oração, vivendo uma relação de confiança profunda com Deus, que nos ama e nos concede aquilo de que realmente necessitamos.
Irmãos
e Irmãs,
Na medida que a sua oração de
súplica é verdadeiramente a de filho adotivo, o cristão tem a certeza de ser
atendido. Mas isso exige um longo aprendizado, um progressivo despojamento de
si, a fim de que a oração de súplica se purifique a tenda a identificar-se com
a ação de graças: "Pai, faça-se a tua vontade, não a minha".
Uma coisa é certa. Se pedirmos com
confiança o dom do Espírito Santo, ele nos será concedido. E se possuirmos o
Espírito do Senhor e o seu santo modo de agir, temos tudo. Ele nos há de ajudar
a acolher todas as coisas e acontecimentos das mãos de Deus. Ele nos faz
possuir Cristo. E isto nos basta. Temos a própria Salvação.
Padre Wagner Augusto Portugal.
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