“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”.
Meus queridos Irmãos,
Celebramos hoje a festa das duas colunas da Igreja: São Pedro e São Paulo. Pedro: Simão responde pela fé dos seus irmãos (cf. Evangelho de Mateus 16,13-19). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser “pedra”, rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc 22,32). Esta “nomeação” vai acompanhada de uma promessa infalível: as “portas” (que corresponde à cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Santa Igreja de Cristo, que é uma realização do “Reino do Céu” (de Deus). A libertação da prisão ilustra esta promessa na primeira Leitura (cf. At 12,1-11). Jesus lhe confia também “o poder das chaves”, ou seja, o serviço de “mordomo” ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou cidade. Na medida em que a Igreja é a realização, provisória, parcial, do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os Papas, são administradores dessa parcela do Reino de Deus. Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que responde “pelos doze”, administra ou governa as responsabilidades da evangelização. Pedro recebe, ainda, o poder de ligar e de desligar, o poder de decisão, de obrigar ou deixar livre. Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.
Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático da Igreja. Sua vocação se dá na visão de Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo, “apóstolo”, grande pedagogo da missão e da vida de Cristo. É Paulo que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo até os confins da terra. As cartas a Timóteo, escritas da prisão de Roma, são a prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Paulo é o apóstolo das nações. No fim da sua vida, pode oferecer uma vida como oferenda adequada a Deus, assim como ele ensinou. Como Pedro, Paulo experimentou Deus como um que liberta da tribulação, conforme nos ensina a segunda leitura (2Tm 4,6-8.17-18).
Irmãos e Irmãs,
Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Os artistas da iconografia católica colocaram as chaves da Igreja em sua mão, para distinguir o seu encargo de possuidor das chaves da salvação. Paulo foi morto decapitado por ser cidadão romano o que impedia de ser crucificado. Os artistas da iconografia católica lhe põem sempre na mão uma espada, além de um livro, para simbolizar as várias epístolas teológicas que legou para a Igreja de Cristo.
Por isso o Evangelho de hoje (Mt 16,13-19) nos fala da confissão de fé de Pedro e a promessa de Jesus para seu futuro. Jesus apelidara Simão de Cefas, que, em aramaico, significa pedra. O apelido pegara a ponto de todos o chamarem de Simão Pedro ou simplesmente de Pedro. Pedro assim será o fundamento da Igreja, do novo Povo de Deus. A pedra na Bíblia significava e significa a segurança, a solidez e a estabilidade, como régio és meu penedo de salvação. Mas Jesus sabia que, sendo criatura humana, Pedro, por mais fiel que lhe fosse, seria sempre uma criatura fraca. Por isso, se faz de Pedro o fundamento, reserva para si todo o peso e todo o equilíbrio da construção e sem a qual o inteiro edifício viria abaixo.
O simbolismo das chaves é claro. A chave abre e fecha. Possuir a chave significa garantia, propriedade, poder de administrar. Isaías tem uma profecia sobre a derrubada do administrador. Sobna e sua substituição pelo obscuro empregado Eliaquim. Poe na boca de Deus estas palavras: “Colocarei as chaves da casa de Davi sobre seus ombros: ele abrirá e ninguém fechará, ele fechará e ninguém abrirá” (cf. Is 22,22). O texto aproxima-se muito à promessa de Jesus, até mesmo na escolha de um humilde pescador para administrar a nova casa de Deus. Assim como Eliaquim não se tornou o dono da casa de Davi, também Pedro não será o dono da nova comunidade. O dono continuará sempre sendo o próprio Deus. Em linguagem jurídica, diríamos que Pedro tornou-se o fiduciário de Cristo. O binômio ligar-desligar repete o abrir-fechar das chaves. Pedro recebe o direito e a obrigação de decidir sobre a autenticidade da doutrina e comportamento dos cristãos diante dos ensinamentos de Jesus. Esta missão de todos os Papas, sucessores de Pedro, que bem podem ser definidos como os guardiões da verdade e da caridade. Celebrar São Pedro, para os cristãos, é também celebrar o Papa.
Caros irmãos,
A Primeira Leitura desta solenidade nos fala da prisão e da libertação de Pedro (cf. At. 12,1-11). Acerca de 43 d.C., Herodes Agripa I manda executar Tiago, filho de Zebedeu. Depois, manda aprisionar Pedro. Mas o “anjo do Senhor” o liberta – como libertou os israelitas do Egito. Um anjo libertou São Pedro da morte certa. Tal fato deixou os cristãos espantados e admirados com a grande benevolência de Deus. A comunidade recorreu à arma da oração: é Deus quem age. Ele é o libertador, conforme cantamos no Salmo Responsorial: “O Senhor me livrou de todas as minhas angústias” (Sl. 34). Mais tarde, também, São Paulo recuperará, de modo idêntico, a sua liberdade (At 16, 25-34).
O texto reflete um momento delicado na vida da Igreja primitiva: a perseguição promovida pelo rei Herodes, com prisões, torturas e até a morte de um dos apóstolos: Tiago (v. 1-2). Com isso, o autor mostra que a vida dos discípulos vai se configurando cada vez mais à vida do próprio Jesus, na condição de vítimas de perseguição pelos detentores de poder (v. 3-4). Ademais, a prisão de Pedro nos “dias dos Pães Ázimos”, ou seja, no tempo da Páscoa, é a principal demonstração de que o autor quer mostrar uma correspondência entre o destino dos discípulos e o de Jesus. Um dos aspectos mais interessantes que a leitura retrata é a oração da Igreja como fonte de libertação para Pedro (v. 5). Isso ressalta tanto a importância dele para a comunidade de Jerusalém quanto a confiança da Igreja no Senhor. Lucas – o autor do livro – apresenta a oração como uma prática constante da Igreja, em continuidade com o que ele diz de Jesus em seu Evangelho. Com isso, quer dizer que a vida da Igreja reflete a vida de Jesus, e isso é prova de fidelidade.
O milagre da libertação de Pedro é descrito (v. 6-11) com uso de diversas imagens, que visam ressaltar que Deus é o verdadeiro protagonista e Senhor da história, propondo três ensinamentos fundamentais para a vida da comunidade. O primeiro é a eficácia da oração comunitária; o segundo é a proteção de Deus sobre as pessoas escolhidas para seu serviço; o terceiro é a certeza de que nenhuma força ou poder humano é capaz impedir a realização do projeto libertador de Deus. A expressão “anjo do Senhor” (v. 7.11) significa o próprio Deus; é ele quem liberta o ser humano de todo mal, pois é dele que vem a salvação.
Prezados irmãos,
A Segunda Leitura (cf. 2Tm 4,6-8.17-18) apresenta a oferenda da vida de Paulo. O Apóstolo das Gentes, que sempre trabalhou com as suas próprias mãos, está agrilhoado; na defesa, ninguém o assistiu. Contudo, fala cheio de gratidão e de esperança. “Guardou a fidelidade”: a sua e a dos fiéis a ele confiados. Aguarda com confiança o encontro com o Senhor. Ofereceu a sua vida no amor, e o amor não tem fim (cf. 1Cor 13,8). Seu último ato religioso é a oferenda de sua vida. Mas sua vida está nas mãos de Deus, que a arrebata da boca das feras. A segunda leitura pode ser chamado do Testamento de São Paulo. O Apóstolo das gentes pressente próxima a sua morte e dá-nos a conhecer o seu estado de espírito: sente-se só e abandonado pelos irmãos, mas não vítima, porque a sua consciência está tranquila e o Senhor está com ele. Guardou a fé e cumpriu a sua vocação missionária com fidelidade. Compara-se à libação derramada sobre as vítimas nos sacrifícios antigos. Quer morrer como viveu, isto é, como verdadeiro lutador, uma vez que se entregou a Deus e aos irmãos. A vitória é certa! As suas palavras são já um cântico de vitória, porque está próximo o seu encontro com Cristo Ressuscitado.
A carta retrata a fase final da vida do apóstolo, quando já estava na prisão, e revela a consciência tranquila de quem dedicou a vida ao Evangelho de Jesus Cristo (v. 6). Com muita serenidade, empregando linguagem simbólica, ele relata sua apaixonante experiência de vida cristã. Sua tranquilidade de consciência provém da convicção de ter guardado a fé (v. 7). Com isso, quer dizer que anunciou o Evangelho de modo integral e pleno, sem nenhuma distorção (v. 17); foi plenamente fiel ao Senhor. Para expressar seu zelo e sua fé, ele recorre à linguagem do culto (v. 6), o que significa a consciência do martírio que se aproximava e a certeza de ter feito da vida um culto agradável a Deus. Também recorre a imagens do mundo militar e esportivo: “combati o bom combate, completei a corrida” (v. 7).
Enfim, a vida de Paulo foi uma aventura de amor na qual ele fez tudo o que foi possível para o Evangelho ser anunciado. Para isso, contou com a proteção do Senhor em todos os momentos. A conclusão da leitura expressa a confiança que marcou toda a sua vida, por isso termina com um hino de louvor a Deus (v. 18), como deve ser a vida de todos os cristãos.
Irmãos e Irmãs,
Celebrar os Apóstolos Pedro e Paulo é um testemunho de fé na Igreja “una, santa, católica, apostólica”. Pedro é, efetivamente, a pedra que se apoia diretamente sobre a pedra angular que é Cristo. Pedro, e Paulo são os últimos elos de uma corrente que nos liga a Jesus. Celebrando Pedro e Paulo celebramos os “fundadores” da nossa fé, os genearcas do povo cristão.
Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias, para que pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja Universal. Esta complementaridade dos carismas de Pedro e Paulo continua atual na Igreja de Cristo hoje: a responsabilidade institucional e criatividade missionária, responsabilidade de todos nós!
São Pedro e São Paulo: dois nomes que ao longo dos séculos personificaram a Igreja inteira em sua ininterrupta Tradição: Aos dois primeiros mestres da fé chegou-se mesmo a "confessar" os pecados no Confiteor, reconhecendo neles a Igreja histórica. Como bem sabemos, ainda hoje, o Papa invoca a autoridade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo quando, em seus atos oficiais, quer referir a Tradição à sua fonte: a Palavra de Deus. Somente pela escuta desta Palavra no Espírito Santificador, pode a Igreja se “tornar perfeita no amor em comunhão com o Papa, os bispos, e toda a ordem sacerdotal”.
Prezados irmãos,
As leituras propostas para esta solenidade nos recordam que, no início de nossa Igreja, houve pessoas que assumiram papéis importantes no testemunho de Jesus Cristo, por isso seus nomes foram registrados na história. Pedro e Paulo foram modelos de fé para os primeiros cristãos. Nossa história sugere também que a perseverança na comunhão e na oração fortalece a comunidade para resistir a muitos sofrimentos, adversidades, rejeições e perseguições. Pedro e Paulo não agiram sozinhos, mas tiveram comunidades que os apoiaram de muitas formas e foram solidárias a eles. O agir cristão supõe um agir eclesial, uma vez que não somos indivíduos isolados, mas pertencemos a uma comunidade de fé. Por isso nosso agir é sempre eclesial.
Também nós somos questionados hoje a responder: quem é Jesus para nós? Quem ele é para a multidão comum? Somos capazes de dar uma resposta diferente da maioria das pessoas que vivem fora da comunidade de fé?
Para muitos de seu tempo, Jesus era apenas um homem bom e generoso que foi sensível aos sofrimentos de seus contemporâneos. Outros o consideravam um mestre que ensinava com sabedoria, mas não conseguiram ver nele o Messias, Filho de Deus. Somos convidados a ir além em nossa resposta de fé. Para nós, seus discípulos e discípulas, ele é o Senhor que transformou nossa vida. O que é ser Igreja? Comunidade do Senhor? Que lugar ele ocupa em nossa caminhada de fé? A comunidade dos discípulos de Jesus é chamada a se organizar e estruturar para desempenhar um papel de autoridade a serviço da vida, a exemplo de Jesus, o Messias, Filho de Deus. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que ele lança aos discípulos e a todas as pessoas.
Irmãos caríssimos,
A liturgia da Palavra deste dia retrata a profundidade das experiências de encontro e seguimento de Jesus, feitas pelos apóstolos Pedro e Paulo. Cada um, à sua maneira, com a palavra e o testemunho, mostrou ao mundo quem é Jesus, conforme a pergunta central do Evangelho desta festa: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Todos os cristãos, em todos os tempos, têm a missão de continuar a responder a essa pergunta, anunciando quem é Jesus Cristo, considerando que a primeira forma de anúncio é o testemunho, a configuração da vida ao Evangelho. Pedro e Paulo fizeram isso e receberam, como prêmio, a coroa do martírio. Questionemo-nos, então, como temos respondido à pergunta de Jesus sobre a sua identidade e como o temos manifestado em nossa vida.
Prezados irmãos,
O Sucessor de Pedro ocupa a Cátedra de Roma. O Supremo Pontificado é uma instituição divina estabelecida por Jesus Cristo, que confiou primeiramente a São Pedro a responsabilidade de guiar a Igreja, segundo o que já aprendemos, de acordo com as tradições bíblica e apostólica (Mt 16,18-19; (Jo 21, 15-17): “O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos depois de sua ressurreição” (São Cipriano). Sendo assim, rezar pelo Papa é reconhecer a sua autoridade como sucessor de São Pedro, fortalecendo o vínculo entre a Igreja e sua origem divina.
Ao rezarmos pelo Papa, independente de qual bispo de Roma esteja na cátedra de Pedro, oferecemos intercessão e proteção espiritual. Não estamos apenas apoiando um líder humano, mas também fortalecendo-o em sua fé e, por meio da comunhão dos santos com os quais vivemos como Igreja, orientando-o pelo Espírito Santo e protegendo-o de adversidades. Dessa maneira, nossas preces expressam nossa confiança na providência divina e nos unem em comunhão espiritual com todo o corpo de Cristo.
A oração pelo Papa promove a unidade e coesão na Igreja. Ao rezarmos juntos, mostramos que somos uma comunidade de fiéis, independentemente de nossas diferenças culturais, étnicas ou geográficas, todos em um só coração e uma só alma (Jo 17,21). Nossas preces pelo Papa nos lembram de nossa responsabilidade em apoiá-lo e sustentá-lo em sua missão.
Rezar pelo Papa é também um testemunho de caridade e humildade. Reconhecemos que o Papa é chamado a servir a Igreja e a humanidade de maneira exemplar. Ao rezar por ele, mostramos nosso apoio e amor fraterno, deixando de lado os nossos interesses pessoais e unindo-nos em oração pelos desafios e necessidades globais e, como Igreja, somos chamados a ser luz no mundo (Mt 5,13-16).
Por fim, rezar pelo Papa é um dever e um privilégio para todos nós católicos. É uma maneira de honrar a missão do Supremo Pontificado, fortalecer a unidade da Igreja e testemunhar nossa caridade e humildade como cristãos. No mês em que lembramos São Pedro, renovemos o nosso compromisso de sempre rezar pelo Papa, sustentando-o com nossas preces e orações. Rezemos, com muita fé, pelo amado Papa Leão XIV.
Caros irmãos,
Lembremos que em todas as missas de sábado e domingo em que, no Brasil, se celebra a Solenidade de São Pedro e São Paulo, relembrando a determinação da 7ª. Assembleia Geral da CNBB, em todas as Igrejas e oratórios, mesmo dos mosteiros, conventos e colégios, comemora-se o Dia do Papa, com pregações e orações que traduzam amor, veneração, respeito e obediência ao Vigário de Cristo na terra, Cabeça da Santa Igreja universal, e com piedosas ofertas para o ÓBOLO DE SÃO PEDRO. É com a contribuição da coleta deste óbolo que o Papa faz a sua caridade em socorrer as calamidades e minorar a dor e a fome dos que mais precisam. Sejamos generosos em ajudar a caridade do Papa.
Rezemos nesta solenidade: “Senhor, vós nos concedeis a alegria de celebrar hoje a festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo: Pedro, que foi o primeiro a confessar a fé em Cristo, e Paulo, que a ilustrou com a sua doutrina; Pedro, que estabeleceu a Igreja nascente entre os filhos de Israel, e Paulo que anunciou o Evangelho a todos os povos; ambos trabalharam, cada um segundo a sua graça, para formar a única família de Cristo; agora, associados na mesma coroa de glória, recebem do povo fiel a mesma veneração. Por isso, vos damos graças e proclamamos a vossa glória. Amén”. (cf. Prefácio da Missa).
Rezemos, pois, pelo nosso Santo Padre Leão XIV que para fiel a missão de ter o serviço da caridade de dirigir a Igreja de Cristo nos interpele para seguirmos a missão de Pedro e de Paulo para sermos testemunhas de Cristo no mundo. Amém!
Padre Wagner Augusto Portugal.
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