A primeira Semana Santa, pelo plano de
Deus, foi a semana mais importante da vida de Jesus Cristo. Esta nossa semana
santa, da mesma forma, deverá ser a semana mais importante da vida de cada um
de nós. Vamos participar de maneira mais efetiva da Semana Santa. Por isso
mesmo, em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2025, que tem como Tema:
“Fraternidade e Ecologia Integral” e como Lema: “Deus viu que tudo era bom”(Gn
1,31). Deve ser uma semana de oração e reflexão, da compreensão dos mistérios
da paixão de Jesus Cristo, do conhecimento da mensagem de Deus para seu povo.
Devemos relembrar que toda a paixão de
Cristo ocorre em Jerusalém e seus arredores.
No tempo cronológico a
Semana Santa foi provavelmente no ano 30
d.C., durante a semana da páscoa dos judeus, entre o 9º e o 16º do mês judaico
de Nisã (março/abril). Jerusalém lotada de peregrinos.
O contexto daquele momento com as
condições políticas: a nação judaica estava sujeita a Roma. Seu governador era
Pôncio Pilatos; os judeus eram legislados pelo sumo-sacerdote Caifás e pelo
conselho dos 70 anciãos. Na Galiléia, região do norte da palestina, Herodes era
o rei;
Acontecimentos relevantes para a
vivência da Semana Santa: Jesus de Nazaré, que por três anos pregou o Reino de
Deus, operou milagres, e finalmente tinha sido proclamado o Filho de Deus,
crescia em popularidade de tal forma que os sacerdotes judaicos viram nele
séria ameaça a sua autoridade sobre o povo. A recente ressurreição de Lázaro
fez com que muitas pessoas acreditassem em Jesus. Os líderes judaicos, sob a
direção dos Sumos Sacerdotes e Doutores da Lei, haviam planejado matar Lázaro e
Jesus por incitar motins, e então acabar com a revolta que pudesse estar
surgindo. Entretanto, como nação sujeita, subjugada, não poderiam condenar
ninguém à morte. Apenas o imperador romano possuía tal autoridade. Agora, com a
páscoa dos judeus, havia uma deixa. Sob estas circunstâncias começa a Semana
Santa.
SEGUNDA-FEIRA SANTA DA PRISÃO OU DO DEPÓSITO DO SENHOR JESUS:
“Eis, Senhor, dois
caminhos muito opostos e contraditórios: o caminho da fidelidade e o caminho da
traição: a fidelidade amorosa de Maria de Betânia, a traição horrível de Judas.
Como quereria, ó Senhor, possuir para Vós um coração como o de Maria. Como quereria
que em mim estivesse inteiramente morto e destruído o traidor!... Como tenho
necessidade de vigiar e orar para que o inimigo não venha semear no meu coração
o gérmen venenoso da traição! Fazei, Senhor, que eu Vos seja fiel, fiel a todo
custo, fiel nas coisas grandes e pequenas, a fim de que as raposas dos pequenos
apegos não possam invadir nem devastar a vinha do meu coração” (Intimidade
Divina).
“Julgai, Senhor, os que me fazem mal, e
combatei os que me injuriam. Tomai as armas e o escudo e correi em meu auxílio,
Senhor, minha força e salvação. Arrancai a espada e investi contra os que me perseguem; dizei à minha alma: eu sou a
tua salvação – Julgai, Senhor”(cf. Sl 34,1-2).
Os eventos dos próximos 3 ou 4 dias não
estão claramente divididos nos Evangelhos, mas o caminho é demonstrado pelas
ações de Nosso Senhor na segunda-feira. Sua atividade neste período foi
intensa. Não nos foi relatado todas as ações. Ele era protegido pelo povo nas
suas disputas com as autoridades. Nosso Senhor viria a Jerusalém pela manhã,
ficaria três dias ali, ensinando e discursando no Templo, à noite sairia da
cidade, e se retiraria ao monte das Oliveiras (onde estavam Bethânia e
Getsêmani). Vindo cedo à Jerusalém, Nosso Senhor encontrou uma figueira que
tinha folhas mas não frutos - um símbolo do judaísmo, cuja religião possui
muitas folhagens e práticas, mas sem espírito interior e sem frutos.
A Prisão de Jesus:
“Depois dessas palavras, Jesus saiu com os seus discípulos para além da
torrente de Cedron, onde havia um jardim, no qual entrou com os seus
discípulos. 2. Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia
frequentemente para lá com os seus discípulos. 3. Tomou então Judas a coorte e
os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com
lanternas, tochas e armas. 4. Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe
acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: “A quem buscais?”. 5. Responderam: “A
Jesus de Nazaré.” – “Sou eu” – disse-lhes. (Também Judas, o traidor, estava com
eles.) 6. Quando lhes disse “Sou eu”, recuaram e caíram por terra. 7.
Perguntou-lhes ele, pela segunda vez: “A quem buscais?”. Disseram: “A Jesus de
Nazaré”. 8. Replicou Jesus: “Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que
buscais, deixai ir estes”. 9. Assim se cumpriu a palavra que disse: Dos que me
deste não perdi nenhum (Jo 17,12). 10. Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou
dela e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. (O
servo chamava-se Malco.) 11. Mas Jesus disse a Pedro: “Enfia a tua espada na
bainha! Não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?”. 12. Então a coorte, o
tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o ataram. 13. Conduziram-no
primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.
(= Mt 26,57-75 = Mc 14,53-72 = Lc 22,54-71) 14. Caifás fora quem dera aos
judeus o conselho: “Convém que um só homem morra em lugar do povo”.(cf. Jo
18,1-14)
Quem traiu Jesus?
Judas Iscariotes é quem traiu Jesus.
Ele é um dos Doze: “Em todas as listas dos Doze é acrescentada ao seu nome a
observação de que ele foi o traidor de Jesus (Mt 10, 4; Mc 3, 19; Lc 6, 16).
João acrescenta que ele era um diabo – talvez aqui no sentido de ‘adversário’
ou ‘ informador’ (Jo 6, 71, mas cf. Jo 13, 27) – e um ladrão, atribuindo-lhe a
infeliz e hipócrita objeção à unção de Jesus em Betânia (Jo 12, 4-6), ao passo
que Mt 26, 8 e Mc 14, 4 atribuem a objeção aos ‘discípulos’ (Mt) e a
‘alguns’(Mc). Os evangelhos sinóticos registram a visita de Judas aos
grão-sacerdotes e o acordo sobre a traição e o preço a ser pago (Mt 26, 14-16;
Mc 14, 10s; Lc 22, 3-6). Entretanto, a soma de trinta moedas de prata só é
mencionada por Mt, derivando provavelmente de Zc 11, 12” (Pe. John L.
Mackenzie, S.J, Dicionário Bíblico).
O atrevimento e a ingratidão de Judas
Iscariotes foram tão grandes, e seu coração já estava tão mergulhado nas
trevas, que o mesmo tomou a frente, tornou-se o guia dos inimigos do
Salvador: “...eis que chegou uma multidão. À frente estava o chamado
Judas, um dos Doze...” (Lc 22, 47), e: “...Judas, que se
tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus” (At 1, 16).
Caros irmãos: grande foi a estupidez de
Judas Iscariotes em trair o Amado Senhor. Ele viveu três anos na companhia do
Salvador: andava, comia, rezava, ouviu inúmeras pregações do Mestre, porém,
jogou tudo fora e acabou se condenando: “Judas se condenou, porque se
atreveu a pecar confiando na clemência de Jesus Cristo” (São João
Crisóstomo).
Hoje, infelizmente, milhões de pessoas
seguem a ingratidão e a estupidez desse infeliz Apóstolo. Quantos católicos
batizados e crismados abandonaram a Cristo Jesus para seguir o mundo, o demônio
e a própria carne. Esses receberam graças e mais graças de Nosso Senhor,
receberam também uma fiel e piedosa formação, mas a exemplo de Judas Iscariotes
jogaram tudo fora, vivendo agora na lama do pecado: “Com efeito, se,
depois de fugir às imundícies do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu último estado
se torna pior do que o primeiro. Assim, melhor lhes fora não terem conhecido o
caminho da justiça do que, após tê-lo conhecido, desviarem-se do santo
mandamento que lhes foi confiado. Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O
cão voltou ao seu próprio vômito, e: A porca lavada tornou a revolver-se na
lama” (2 Pd 2, 20-22).
Infeliz do católico que abandona a
amizade com Jesus para viver nas trevas, esse jamais entrará na Pátria
Eterna: “O laço com que o demônio arrasta quase todos os cristãos que
se condenam é, sem dúvida, esse engano com que os seduz, dizendo-lhes: ‘Pecai
livremente, porque, apesar de todos os pecados, haveis de salvar-vos” (Santo
Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XVII, Ponto
I).
Judas Iscariotes viveu três anos ao
lado de Cristo Jesus, e depois tornou-se o guia dos inimigos do Salvador, isto
é, caminhou à frente daqueles que estavam prestes a prenderem Nosso Senhor.
Também existem milhões de ex-católicos,
que antes adoravam Jesus Sacramentado, veneravam a Virgem Maria, defendiam o
Papa, etc., e agora, encabeçam em muitas igrejolas o coro daqueles que caluniam
sem cessar a Santa Igreja. Esses são os Judas de hoje!
A multidão encabeçada por Judas não
vinha de mãos abanando, mas bem armada, até perece que Nosso Senhor era um
grande malfeitor: “...grande multidão com espadas e paus” (Mt
26, 47).
Como já foi comentado, milhões de
ex-católicos que receberam uma ótima formação dentro da Igreja, hoje, caminham
furiosamente contra a Esposa de Nosso Senhor, a Igreja Católica; esses usam as
“espadas” da língua e os “paus” da perseguição para tentarem destruir a Única
Esposa de Cristo.
Existem também os Judas que vivem
dentro da Igreja, de mitra e sem mitra; estes, com mentiras e hipocrisia nos
lábios, perseguem continuamente a Cristo Jesus: “Aludimos, Veneráveis Irmãos, a
muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a
não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido
conhecimento de filosofia e teologia, mas, embebidos antes das teorias
envenenadas dos inimigos da Igreja, blasonam, postergando todo o comedimento,
de reformadores da mesma Igreja; e cerrando ousadamente fileiras se atiram
sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo, sem pouparem sequer a
mesma pessoa do divino Redentor que, com audácia sacrílega, rebaixam à caveira
de um puro e simples homem” (Pio X, Carta Encíclica “Pascendi Dominici Gregis”,
Introdução), e: “Meus queridos amigos – neste momento, só posso dizer:
orai por mim, para que eu possa aprender a amar o Senhor mais e mais. Orai por
mim, para que eu possa aprender a amar Seu rebanho mais e mais – em outras palavras,
a santa Igreja, cada um de vós e todos vós juntos. Orai por mim, para que eu
possa não fugir com medo dos lobos” (Bento XVI, Sermão na Missa de
entronização, 24 de abril de 2005, Praça de São Pedro).
Por que será que Judas, o traidor, se
previne tanto para prender o Manso Cordeiro? Ele vivera com Ele por três anos e
conhecia muito bem a mansidão do Senhor: “...aprendei de mim, porque
sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29), e conhecia também os
milagres que Cristo havia realizado: “Mas Judas já de nada se lembra,
nada enxerga; esta é a primeira astúcia do Demônio para arrastar os pecadores,
torna-os cegos para que nada vejam, em nada reparem. Como estamos vendo que os
maiores pecadores, estando no fim da vida, ou por uma doença incurável, ou por
uma idade avançada, já quase com os pés na sepultura, todavia desprezam todo o
conselho, resistem à toda admoestação caridosa, e sempre se lisonjeando de irem
dilatando a vida, morrem sem receber os Sacramentos e vão se apresentar ao
Tribunal de Deus, sem terem reparado os escândalos” (Sacerdote da
Congregação da Missão).
Em São João 18, 3-8 diz que Nosso
Senhor saiu ao encontro de Judas e dos outros inimigos: “Judas, então,
levando a coorte e guardas destacados pelos chefes dos sacerdotes e pelos fariseus,
aí chega, com lanternas, archotes e armas. Sabendo Jesus tudo o que lhe
aconteceria, adiantou-se e lhes disse: ‘A quem procurais?’ Responderam: ‘Jesus,
o Nazareno’. Disse-lhes: ‘Sou eu’. Judas, que o estava traindo, estava também
com eles. Quando Jesus lhes disse ‘ Sou eu’, recuaram e caíram por terra.
‘Perguntou-lhes, então, novamente: ‘A quem procurais?’ Disseram: ‘Jesus, o
Nazareno’. Jesus respondeu: ‘Eu vos disse que sou eu...”
Nosso Senhor não se intimidou diante
dos inimigos. Nem o número de soldados, nem as lanças, nem os paus assustaram a
Cristo Jesus. Ele é o Senhor do céu e da terra, por isso, as serpentes
perecíveis não Lhe causaram medo.
Ele adiantou-se e lhes perguntou: “A
quem procurais?” Os inimigos disseram que estavam à procura de Jesus. Ele
disse-lhes: “Sou eu”. E todos caíram por terra.
Está claro que o Imaculado Cordeiro,
porque quis, é que se entregou às mãos dos inimigos. O “Sou eu”, foi o bastante
para que todos os inimigos caíssem tontos por terra, e assim, as serpentes
sentiram o cheiro do pó: “Os perseguidores, que vinham com o traidor para
prender Jesus, encontraram O que buscavam e ouviram-nO dizer Sou eu. Por que
não O prenderam, mas retrocederam e caíram? Porque assim o quis quem podia
fazer o que queria. Se não o tivesse permitido, nunca teriam realizado o
intento de O prenderem, mas também Ele não teria cumprido a Sua missão. Eles
buscavam com ódio O que queriam matar; Jesus, pelo contrário, buscava-nos com
amor querendo morrer. E assim, depois de manifestar o Seu poder àqueles que sem
poderem fazê-lo queriam prendê-lO, prendê-lo-ão e deste modo cumprirá o Seu
desejo por meio daqueles que o ignoravam” (Santo Agostinho, In Ioann. Evang.,
112, 3).
Nunca ninguém derrubara os inimigos
somente com a voz como fez Nosso Senhor: Nem Alexandre, nem César com todo seu
poder, nem Pompeu, nem Anibal com todas as suas astúcias, puderam jamais
produzir efeitos semelhantes a este: Sou eu! E uma corte inteira, com os
Escribas, Fariseus e com os anciãos do povo, todos se acharam de repente
prostrados por terra. Verdade é que Sansão derrotou a mais de mil, foi porém
não com uma palavra, mas com os esforços de seus braços, servindo-se da
queixada de um jumento. Sangar derrotou a seiscentos, mas foi com o instrumento
da sua lavoura. Igualmente Davi derrotou em um dia a oitocentos Filisteus, mas
foi com o poder de suas armas. Só pertencia a Jesus, só pertencia ao
Unigênito Filho de Deus, só pertencia Àquele que com uma palavra criara o
mundo, e com uma única palavra o teria podido destruir, mostrar nesta hora todo
seu poder, prostrando assim a seus inimigos com as palavras: Sou eu!
Caro irmão, seja fiel a Nosso Senhor e
viva de acordo com a Sua Santa Vontade. Não seja ingrato e não traia Aquele
Senhor que cuida de ti continuamente. Lembre-se de que a vida passa e que
existe um julgamento após a morte, e nesse terrível Dia, Cristo Jesus lhe dirá:
Sou eu, a quem ofendestes tantas vezes. Sou eu, contra quem vos
tendes levantado. Sou eu, a quem tendes desprezado. Sou eu, sim, sou eu, que
venho agora fazer justiça à minha Majestade infinita ofendida.
Nosso Senhor não se intimidou diante
dos soldados, mas disse-lhes abertamente: “Sou eu... Eu vos disse que
sou eu...” (Jo 18, 5. 8).
Sejamos também corajosos, não tenhamos
medo de professar a nossa fé em Jesus Cristo, falemos a todos e abertamente que
Ele é o Nosso Salvador, mesmo quando o ambiente é difícil: “Cada
cristão deve dar testemunho – não só com o exemplo, mas também com a palavra –
da mensagem evangélica. E para isso devemos aproveitar todas as oportunidades –
sabendo também provocá-las prudentemente – que se apresentam no convívio com os
nossos familiares, amigos, colegas de profissão, vizinhos; com pessoas com quem
nos relacionamos, mesmo que seja por pouco tempo, durante uma viagem...” (Pe.
Francisco Fernández-Carvajal).
Quando formos interrogados se somos
católicos, não nos recuemos nem nos intimidemos, mas falemos com convicção e
coragem: “Estive, estou e estarei sempre com Cristo. Eis a minha fé,
pela qual darei minha vida, se assim for preciso. Cortai, pois, batei, queimai;
dou todos os membros do meu corpo, para confessar a meu Deus e Senhor” (São
Teodoro, mártir, ao Juiz).
Em Mt 26, 48-49 diz: “O seu
traidor dera-lhes um sinal, dizendo: ‘É aquele que eu beijar; prendei-o. E
logo, aproximando-se de Jesus, disse: ‘Salve, Rabi!’ e o beijou”.
É lamentável a atitude de Judas
Iscariotes, a sua frieza e maldade são espantosas; com certeza esse infeliz que
recebeu tanto de Nosso Senhor não caiu de uma vez, mas foi escorregando aos
poucos até mergulhar desgraçadamente na traição: “Uma casa não desaba
por um movimento momentâneo. Na maioria dos casos, esse desastre é consequência
de um antigo defeito de construção. Mas, por vezes, o que motiva a penetração
da água é o prolongado desleixo dos moradores: a princípio, a água infiltra-se
gota a gota e vai insensivelmente roendo o madeiramento e apodrecendo a
armação; com o decorrer do tempo, o pequeno orifício vai ganhando proporções
cada vez maiores, ocasionando fendas e desmoronamentos consideráveis; por fim,
a chuva penetra na casa como um rio caudaloso” (Cassiano, Colações,
6).
Caros irmãos, examine diariamente a sua
consciência com o termômetro da sinceridade, para saber se você está sendo fiel
a Jesus Cristo. Muitos começam bem, mas com o passar do tempo vão se relaxando,
cometendo pequenos erros, depois cometem grandes e já não se preocupam mais em
corrigi-los, e assim, de erro em erro acabam por abandonar a Nosso
Senhor: “Perseverar é responder positivamente às pequenas e constantes
chamadas que o Senhor faz ao longo de uma vida, ainda que não faltem obstáculos
e dificuldades...” (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).
Judas Iscariotes é falso, mau e frio. Esse traidor
saúda Jesus chamando-O de Mestre, beija-O e depois O entrega nas mãos dos
inimigos: “A turba perversa e desenfreada, que nessa fatal noite
procurava a Jesus no jardim das Oliveiras, devia naturalmente ser precedida,
guiada pelo mais perverso, pelo mais infame dos homens; e como Caim na antiga
lei se tornou detestável convidando o irmão a passeio para lhe tirar a vida,
assim e muito mais detestável se tornou Judas entregando o filho de Deus à
morte com um fingido beijo de amizade” (São Cipriano).
Prezados irmãos,
O Redentor, sabendo que
Judas se aproximava, acompanhado dos Judeus e dos soldados, levanta-se, banhado
ainda no suor da agonia mortal. Com o rosto pálido, mas com o coração todo
abrasado em amor, vai-lhes ao encontro para se lhes entregar nas mãos, e vendo-os
chegados perto, diz: Quem quaeritis? — “A quem buscais?”
— Afigura-te, minha alma, que neste momento Jesus te pergunta também: Dize-me,
a quem buscas? Ah, meu Senhor, a quem poderei buscar senão a Vós, que descestes
do céu à terra para me buscar e não me ver perdido?
Comprehenderunt Iesum, et ligaverunt eum — “Eles prenderam a Jesus
e o ligaram”. Ó céus, um Deus ligado! Que diríamos, se víssemos um rei preso
e ligado pelos seus servos? E que dizemos agora vendo um Deus entregue às mãos
da gentalha? Ó cordas bem-aventuradas! Vós que ligastes o meu Redentor, ah!
Liga-me a Ele, mas liga-me de tal modo que nunca mais me possa separar de seu
amor. — Considera, minha alma, como um lhe liga as mãos, outro o injuria, mais
outro o empurra, e o Cordeiro inocente se deixa ligar e empurrar quanto
quiserem. Não procura fugir das mãos deles, não chama por auxílio, não se
queixa de tantas injúrias, nem mesmo pergunta por que é tratado assim. Eis,
pois, realizada a profecia de Isaías: Oblatus est quia ipse voluit,
et non aperuit os suum; sicut ovis ad occisionem ducetur (2) — “Foi oferecido,
porque ele mesmo quis, e não abriu a sua boca; ele será levado como uma ovelha
ao matadouro”.
Mas onde é que se acham os
seus discípulos? Que fazem? Já não podendo livrá-Lo das mãos de seus inimigos,
ao menos que o tivessem acompanhado para defenderem a inocência de Jesus
perante os juízes, ou sequer para o consolarem com a sua presença! Mas não; o
Evangelho diz: Tunc discipuli eius, relinquentes eum, omnes
fugerunt (3) — “Então os seus discípulos desamparando-O, fugiram todos”.
Qual não devia ser a tristeza de Jesus, vendo que até os seus discípulos
queridos fugiam e O desamparavam? Mas, ó céus, então o Senhor viu ao mesmo
tempo todas aquelas almas que, sendo por Ele mais favorecidas, haviam de
abandoná-Lo depois e de Lhe virar as costas.
Ligado como um malfeitor, o
nosso Salvador entra em Jerusalém, onde poucos dias antes fora aclamado com
tantas honras e louvores. Passa a desoras pelas ruas, entre lanternas e tochas,
e tão grande é o alarido e tumulto, que todos deviam pensar que se levava
qualquer grande criminoso. A gente chega à janela e pergunta: quem é que foi
preso? e respondem-lhe: Jesus, o Nazareno, que foi desmascarado como sendo um
sedutor, um impostor, um falso profeta e réu de morte. — Quais não deviam ser
então em todo o povo os sofrimentos de desprezo e indignação, quando viram
Jesus Cristo, acolhido primeiro como o Messias, preso por ordem dos juízes,
como impostor!
Ah! Como se trocou então a
veneração em ódio, como se arrependeu cada um de O ter honrado,
envergonhando-se de ter honrado um malfeitor, como se fosse o Messias! — Eis,
pois, a que estado se reduziu o Filho de Deus para nos mostrar o nada das
honras e dos aplausos do mundo! E como é que eu, apesar de ver um Deus tão
humilhado e injuriado por meu amor, como é que eu hei de viver tão amante dos
bens fugazes da terra, ambicionar as honras, as dignidades, as preeminências, e
não saber sofrer o mínimo desprezo? Ai de mim, pecador e soberbo!
Donde, ó meu Senhor, me pode
vir tamanho orgulho, depois que mereci tantas vezes o inferno? Meu Jesus,
suplico-Vos pelos merecimentos dos desprezos que sofrestes, dai-me a graça de
Vos imitar. Proponho com o vosso auxílio reprimir de hoje em diante todo o
ressentimento e receber com paciência, alegria e contentamento todas as
humilhações, todas as injúrias e todas as afrontas que me possam ser feitas.
Proponho, além disso, para Vos agradar, fazer todo bem possível a quem me
despreza; ao menos falarei sempre bem dele e rogarei por ele. Vós, ó meu
Senhor, pelas dores de Maria Santíssima, fortalecei estes meus propósitos e
dai-me a graça de Vos ser fiel.
Prezados irmãos,
Não se faça a minha vontade... São tantas as cenas em que Cristo fala
com seu Pai, que se torna impossível determo-nos em todas. Mas penso que não
podemos deixar de considerar as horas, tão intensas, que precedem a sua Paixão
e Morte, quando se prepara para consumar o Sacrifício que nos devolverá ao Amor
divino. Na intimidade do Cenáculo, seu coração transborda: dirige-se suplicante
ao Pai, anuncia a vinda do Espírito Santo, anima os seus íntimos a manterem um
contínuo fervor de caridade e de fé. Esse inflamado recolhimento do Redentor
continua em Getsêmani, ao perceber a iminência da Paixão, com as humilhações e
as dores que se aproximam, essa Cruz dura em que se suspendem os malfeitores, e
que Ele desejou ardentemente. Pai, se é possível, afasta de mim este cálice. E
logo a seguir: Não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua.
Se formos conscientes de que
somos filhos de Deus, de que a nossa vocação cristã exige seguir os passos do
Mestre, a contemplação da sua oração e agonia no horto das Oliveiras deve
levar-nos ao diálogo com Deus Pai. “Ao orar, Jesus já nos ensina a orar”[14];
e além de ser o nosso modelo, convoca-nos à oração, tal como a Pedro, Tiago e
João, quando os levou consigo e lhes pediu que vigiassem com Ele: Orai, para não entrardes em tentação. – E Pedro
adormeceu. – E os demais Apóstolos. – E adormeceste tu, meu pequeno amigo, e eu
fui também outro Pedro dorminhoco.
O Papa Bento XVI, em uma
audiência que dedicou à oração de Jesus em Getsêmani, referia-se à capacidade
que os cristãos têm, quando procuram uma intimidade cada vez maior com Deus, de
trazer para esta terra uma antecipação do céu: “cada dia na oração do Pai-Nosso
nós pedimos ao Senhor: ‘Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu’
(Mt 6, 10). Isto é, reconhecemos que há uma vontade de Deus conosco e para nós,
uma vontade de Deus sobre a nossa vida, que deve tornar-se cada dia mais a
referência da nossa vontade e do nosso ser; além disso, reconhecemos que é no
‘céu’ que se cumpre a vontade de Deus, e que a ‘terra’ só se torna ‘céu’, lugar
da presença do amor, da bondade, da verdade e da beleza divina, se nela se
cumprir a vontade de Deus. Na prece de Jesus ao Pai, naquela noite terrível e
admirável do Getsêmani, a ‘terra’ tornou-se ‘céu’; a ‘terra’ da sua vontade
humana, abalada pelo pavor e pela angústia, foi assumida pela sua vontade
divina, de maneira que a vontade de Deus se cumpriu sobre a terra. E isto é
importante inclusive na nossa oração: devemos aprender a confiar-nos mais à
Providência divina, pedir a Deus a força para sairmos de nós mesmos e
renovarmos o nosso ‘sim’, para lhe repetirmos: ‘Seja feita a vossa vontade’,
para conformarmos a nossa vontade com a sua”.
Jesus, só e triste, sofria e empapava
a terra com o seu sangue. De joelhos sobre a terra dura, persevera em oração...
Chora por ti... e por mim: esmaga-O o peso dos pecados dos homens.
Dirige-te a Nossa Senhora e pede-lhe
que te faça a dádiva – prova do seu carinho por ti – da contrição, da compunção
pelos teus pecados, e pelos pecados de todos os homens e mulheres de todos os
tempos, com dor de Amor. E, com essa disposição, atreve-te a acrescentar: –
Mãe, Vida, Esperança minha, guiai-me com a vossa mão..., e se há agora em mim
alguma coisa que desagrade a meu Pai-Deus, concedei-me que o perceba e que, os
dois juntos, a arranquemos. Continua sem medo: – Ó clementíssima, ó piedosa, ó
doce Virgem Santa Maria!, rogai por mim, para que, cumprindo a amabilíssima
Vontade do vosso Filho, seja digno de alcançar e gozar das promessas de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Caros irmãos:
“Ó amor! Ó amor divino! Só vós
pudestes ligar um Deus e conduzi-Lo a morte por amor dos homens!” E apesar
disso, estes mesmos homens lhe são ingratos e o ofendem.
O Divino Redentor quis
sujeitar-se a ignominia de ser encadeado, para nos merecer a graça de
sacudirmos as cadeias que nos prendem ao pecado, e que se chamam as
más ocasiões. Se estas cadeias não forem quebradas de uma só vez,
nunca serão quebradas. Quantos há que estão agora ardendo no inferno, por terem
dito: Amanhã, amanhã! Não vale dizer que até hoje não
houve nada de mal; porque é pouco a pouco que o demônio leva as almas incautas
até a borda do precipício, e então basta o choque mais leve para as fazer cair.
É uma máxima comum dos mestres da vida espiritual, que, especialmente em se
tratando da impureza, não há outro meio senão a fuga das ocasiões e o
rompimento de todo o afeto.
Meu irmão, se por desgraça
estiveres preso por alguma daqueles cadeias de morte, escuta o que te diz Jesus
Cristo: Solve vincula colli tui, captiva filia Sion – “Desata as cadeias o
teu pescoço, cativa filha de Sião” . Pobre alma, rompe os
laços que te prendem ao inferno, chega-te a mim, e permite que, partilhando
contigo as minhas cadeias, te obrigue a amar-Vos sempre.
Rezemos, neste dia: “Ó meu
mansíssimo Jesus! Vendo-Vos encadeado por meu amor, que posso eu temer, já que
estais de certo modo impossibilitado de levantar o braço para me ferir? Não
quereis castigar-me, contanto que eu me resolva a sacudir o jugo das minhas
paixões e unir-me a Vós. Sim, meu Senhor, quero recuperar a minha liberdade; e
pesa-me sobre todas as coisas ter outrora abusado da minha liberdade e de Vos
ter ofendido. Vós Vos deixas-te ligar por meu amor, e eu quero ser ligado pelo
vosso amor. Ó felizes cadeias, ó formosas ligaduras de salvação, que unis as
almas ao Coração de Jesus: Apoderai-vos do meu pobre coração e liga-o de tal
modo, que nunca mais se possa separar desse amantíssimo Coração – Ó grande Mãe
de Deus e minha Mãe, Maria, pela dor que sentistes em ver vosso Jesus, amarrado
como um malfeitor, obtende-me a santa perseverança.
Padre Wagner Augusto Portugal.
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