“Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual para crescerdes na salvação, aleluia!”(cf. 1Pd 2,2)
Meus
queridos Irmãos,
Este é o tempo que o Senhor fez para
nós, Alegremo-nos e N’Ele Exultemos!
Todos nós somos embaixadores do
Cristo Ressuscitado! Assim, depois de termos refletido sobre os mistérios do
Senhor, o Rei do Universo, é necessário que neste domingo volvemos nossos
olhares para o que a IGREJA CHAMOU DE DOMINGO DA MISERICÓRDIA DIVINA!
A Misericórdia permeia toda a
liturgia deste domingo. Numa cena que lembra a criação do mundo e parecida com
a manhã de Pentecostes, João conta-nos como, na tarde de Páscoa, Jesus apareceu
aos Apóstolos e enviou-os com a mesma missão salvadora com que ele fora enviado
pelo Pai. João dá uma conotação teológica nova: o envio dos Apóstolos é
relacionado ao envio de Jesus da parte do Pai. Fica claro que a Igreja é a
continuadora da missão de Jesus. Não só o prolongamento do Corpo de Jesus
ressuscitado, como a chamou São Paulo, mas também o prolongamento de sua voz e
de sua graça. A Igreja não tem outra missão na terra a não ser a de continuar a
obra de Jesus.
Essa doce missão evangelizadora da
Igreja só pode cumprir na força do Espírito Santo. Fazendo uma comparação,
diríamos que a Igreja é o carro que nos conduz ao porto feliz da eternidade,
mas o motor é o Espírito Santo. Numa cena que recorda a criação do ser humano,
Jesus sopra sobre os Apóstolos o Espírito Santo. É o Espírito Santo a grande
testemunha, isto é, aquele que deve proclamar Cristo Ressuscitado, caminho,
verdade e vida da humanidade redimida. Sem o Espírito Santo de Cristo, a Igreja
seria instituição meramente humana.
A
evangelização tem a meta da SANTIDADE. Todos nós temos que abandonar o pecado e
voltar, depois de obtermos a graça santificante, a amizade com Deus. Caminho
que exige fé e humildade.
A fé envolve o encantamento com o
Ressuscitado: envolvem a inteligência, à vontade, os sentimentos. Temos que ter
fé com o coração, porque é Feliz aquele que crê sem ver!
Caros
irmãos,
A Primeira Leitura desta Liturgia (cf.
At. 5,12-16) nos fala da adesão incontável e numerosa de fiéis à comunidade.
Vendo uma comunidade realmente fraterna, as pessoas começam a questionar. Que
isso significa? Sobretudo, quando sinais prodigiosos acompanham esta
comunidade. Sinais que devem conduzir a Jesus de Nazaré, cuja ressurreição a
comunidade proclama, como podemos observar no salmo responsorial: “A pedra que
os pedreiros rejeitaram tornou-se, agora, a pedra angular” (cf. Sl. 118).
O livro dos Atos dos Apóstolos apresenta o “caminho” que a
Igreja de Jesus percorreu, desde Jerusalém até Roma, o coração do Império. No
entanto, foi de Jerusalém, o lugar onde irrompeu a salvação – isto é, onde
Jesus sofreu, morreu, ressuscitou e subiu ao céu –, que tudo partiu. Foi aí que
nasceu a primeira comunidade cristã e que essa comunidade, pela primeira vez,
se assumiu como testemunha de Jesus diante do mundo.
A comunidade cristã tem de ser,
fundamentalmente, uma comunidade que testemunha Cristo ressuscitado. Se
formarmos uma família de irmãos “unidos pelos mesmos sentimentos”, solidários
uns com os outros, capazes de partilhar, estaremos a anunciar esse mundo novo
que Jesus propôs e a interpelar os nossos conterrâneos.
Os milagres não são, fundamentalmente,
acontecimentos espantosos que subvertem as leis da natureza; mas são sinais que
mostram a presença libertadora e salvadora de Deus e que anunciam essa vida
plena que Deus quer dar a todos os homens. Não são, portanto, coisas reservadas
a certos feiticeiros ou super-heróis, mas são coisas que eu posso fazer todos
os dias: sempre que os meus gestos falam de amor, de partilha, de
reconciliação, eu estou a realizar um “milagre” que leva aos irmãos a vida nova
de Deus, estou a anunciar e a fazer acontecer a Ressurreição.
Meus
queridos Irmãos,
Neste domingo, chamado “in albis”,
ou seja, das vestes brancas ou da Divina Misericórdia a liturgia acentua a nova
existência do cristão, regenerado pelo batismo ou pela renovação das promessas
batismais. O Evangelho de João (cf. Jo 20,19-31) apresenta a missão pelo Cristo
Ressuscitado. A Ressurreição é a nova criação. Restabelece-se a paz. Novamente
é dado o Espírito. O homem deve “tirar o pecado do mundo”, prolongando a missão
de Cristo. A primeira geração teve o privilégio de ver e apalpar o
ressuscitado, que inaugurou esta nova realidade. As gerações seguintes deverão
crer por causa de seu testemunho.
Jesus aparece aos discípulos desejando-lhes a Paz. Em ambas
as aparições estão trancadas as portas por medo dos judeus. Jesus supera as
portas trancadas não só porque possui agora um corpo ressuscitado, mas também
para dizer-nos que devemos superar o medo da perseguição, da incompreensão, da
decepção e da morte. Por causa dessas e de outras razões, fechamo-nos em nossa
casa e em nós mesmos. Todos temos experiência desse fechamento, que não é
pascal, que não é cristão. Fechar-se é morrer. A presença de Jesus enche-nos de
alegria. E abrimo-nos como flor de quintal. O cristianismo é abertura para os
outros. É porta aberta para receber e ir ao encontro.
Jesus presente em nosso meio não nos
deixa parados. Ele faz de nós seus braços, pés e coração. Ele reparte conosco
sua missão salvadora. Sua presença de ressuscitado tem a força de recriar as
criaturas. Observe-se quanta semelhança tem a cena da aparição de Jesus na
tarde da Páscoa com a cena da criação do mundo. De fato, a Paixão e a
Ressurreição de Jesus criaram uma nova humanidade, onde o Espírito Santo de
Deus fez de cada discípulo de Jesus um continuador responsável da missão de
Cristo.
Irmãos,
Jesus reparte com os Apóstolos o
poder de condenar e de salvar. Jesus envia seus apóstolos para a missão. Os
apóstolos de ontem e de hoje somos todos nós, um povo sacerdotal pelo batismo.
Por isso todos nós somos embaixadores de Cristo, e é em nome de Cristo que
todos nós somos convidados a espargir o perdão, a misericórdia, a fraternidade,
a paz, a justiça, o amor, tudo baseado na pessoa de Jesus Ressuscitado.
Jesus hoje nos fala da paz. Quanta
paz falta no mundo? Quanta paz estamos precisando no exterior e no nosso
próprio país. A paz é o centro principal da Páscoa! Cristo reintroduziu a
harmonia entre o Criador e as criaturas. E é dessa paz que os Apóstolos devem
encher-se para levá-la a todos os povos. Essa paz é a conseqüência do perdão
dos pecados. Essa paz é a plenitude do Espírito de Deus entre as criaturas. Por
isso Paulo podia escrever aos Efésios que Deus entre as criaturas.
Que nós não tenhamos a atitude de
Tomé que disse que só acreditaria se tocasse nas chagas de Jesus. Tomé hoje
sente Jesus ressuscitado pelo olho – viu – pelo ouvido – escutou – e pelo tato
– tocou – em Jesus. Os principais sentidos humanos atestam a ressurreição de
Jesus.
Caros irmãos,
A
comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é
d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis,
incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de
gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva
e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito e não seremos uma
comunidade de irmãos… A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos,
verdadeiramente, a experiência de Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de
partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo,
a transformar e a renovar o mundo. Jesus
deixa-Se ver aos seus discípulos, o que os enche de alegria. Envia sobre eles o
seu Espírito para que respirem do mesmo sopro e espalhem, por sua vez, o sopro
da misericórdia de Deus. Tomé não está lá nessa tarde de Páscoa, o testemunho
dos apóstolos não consegue convencê-los; ele quer ver, quer tocar, recusa
reconhecer o Ressuscitado num fantasma. Jesus respeita a sua caminhada, e é Ele
próprio que lhe propõe para ver e tocar. Tomé, então, proclama o primeiro ato
de fé da Igreja: “Meu Senhor e meu Deus!” Ele reconhece não somente Jesus
ressuscitado, marcado pelas chagas da Paixão, mas adora-O como seu Deus. Então,
Jesus anuncia que não Se apresentará mais à vista dos homens, mas será
necessário reconhecê-l’O unicamente com os olhos da fé. E faz desta fé uma
bem-aventurança: “felizes os que acreditam sem terem visto!” Também nós, hoje,
somos convidados a viver esta bem-aventurança. Oxalá possam as nossas dúvidas e
as nossas questões ser, como para Tomé, caminho de fé!
Caros
irmãos,
A Segunda Leitura (cf. Ap
1,9-11a.12-13.17-19) apresenta a maravilhosa visão da vocação do apocalíptico.
O Filho do Homem por seu traje é caracterizado como sacerdote, rei e juiz. Era
morto e vive. Dispõe de tempos e mundos: a última palavra sobre a História
pertence a Ele. Referência especial ao “dia do Senhor”, o primeiro da semana, o
domingo, dia da ressurreição. Como para o visionário, deve ser para cada
cristão dia de encontro com o Ressuscitado.
A segunda leitura está ambientada nos finais do reinado de
Domiciano (à volta do ano 95); os cristãos eram perseguidos de forma violenta e
organizada e parecia que todos os poderes do mundo se voltavam contra os
seguidores de Cristo. Muitos cristãos, cheios de medo, abandonavam o Evangelho
e passavam para o lado do império. Na comunidade dizia-se: “Jesus é o Senhor”;
mas lá fora, quem mandava mesmo como senhor todo-poderoso era o Imperador de
Roma. É neste contexto de perseguição, de medo e de martírio que vai ser
escrito o Apocalipse. O objetivo do autor é apresentar aos crentes um convite à
conversão (primeira parte – Ap 1-3) e uma leitura profética da história que os
ajude a enfrentar a tempestade com esperança e a acreditar na vitória final de
Deus e dos crentes (segunda parte – Ap 4-22).
A segunda leitura fala do “Filho do Homem!”. Esse “Filho do
Homem” é Cristo ressuscitado. Para o descrever em pormenor, o autor (um tal
João, exilado na ilha de Patmos por causa do Evangelho) vai recorrer a símbolos
herdados do mundo vétero-testamentário que sublinham, antes de mais, a
divindade de Jesus. Os homens de hoje, apesar de todas as descobertas e
conquistas, têm, muitas vezes, uma perspectiva pessimista que lhes envenena o
coração e a existência. Se a esperança está em crise, nós, testemunhas do ressuscitado.
A João, Cristo Ressuscitado confia a
missão profética de testemunhar. O fato de João cair por terra como morto e o
fato de o Senhor o reanimar com um gesto (Ap 1,17) fazem-nos pensar em vários
relatos de vocação profética do Antigo Testamento. O “profeta” João é, pois,
enviado às Igrejas; a sua missão é anunciar uma mensagem de esperança que
permita enfrentar o medo e a perseguição. Sobretudo, é chamado a anunciar a
todos os cristãos que Jesus ressuscitado está vivo, que caminha no meio da sua
Igreja e que, com Ele, nenhum mal nos acontecerá pois é Ele que preside à
história.
Caros irmãos,
Essas três
leituras deste Domingo nos põem em relação com o Ressuscitado, aquele que pode
transformar nossos sentimentos em paz e alegria, a fim de que o testemunhemos.
Para isso, ele sopra sobre nós seu Espírito, para vivermos o perdão dos
pecados. Outras “chagas” se apresentam diante de nós no mundo contemporâneo. Os
pobres, doentes e excluídos de nosso tempo representam novos rostos, com os
quais podemos praticar a experiência de Tomé. A chaga horrível da guerra que
nos atormenta. Tocar essas feridas, hoje, implica ser presença solidária,
acompanhar, contribuir, apoiar, alimentar sintonia e comunhão com aqueles que
clamam por justiça e por uma presença consoladora, carregada de ternura e
compaixão. A experiência de encontro com o Senhor ressuscitado não é delírio
dos primeiros discípulos ou ideia infundada da comunidade primitiva. A mudança
de vida confirma o que o Espírito Santo gera naqueles que se dispõem a ele.
Assim, que nossas liturgias nos ajudem a viver o compromisso do perdão e do
amor, a exemplo de Jesus.
Prezados
irmãos,
A Igreja seja sempre um lugar
acolhedor, renovado, cheio de alegria e esperança. A comunidade deve
experimentar momentos de reflexão acerca da misericórdia, uma prática às vezes
difícil, por causa da indiferença, dos julgamentos precipitados e das posturas
de fechamento. Muito cuidado com a misericórdia só para os amigos ou os que tem
o seu mesmo pensamento. Vamos ao encontro dos que estão afastados da comunidade
e acolhê-los com ternura e abertura, a fim de que encontrem o Ressuscitado
presente em nossas palavras e atitudes.
Meus
amados Irmãos,
Cristo Ressuscitado veio
garantir-nos esta libertação, raiz e base de qualquer outra libertação.
Libertação do pecado significa libertação da mais radical alienação que seduz o
homem. Onde não há esta libertação, vê-se que a destruição das estruturas
injustas deu lugar muito frequentemente a outras estruturas que não souberam
respeitar o homem.
A comunidade seja familiar, seja
eclesial, é o lugar privilegiado da ressurreição de Cristo, porque é o lugar do
amor. Agora não mais dos Atos dos Apóstolos, mas dos atos dos cristãos.
Importante é que eles sejam colocados na vida para que os outros vejam e,
vendo, creiam e tenham a vida eterna.
Assim
hoje, no dia da misericórdia, podemos cantar a seqüência do dia pascal: “daí
graças ao Senhor, porque Ele é bom! Eterna é a sua misericórdia! Este é o dia
em que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos! Amém!”
Daí graças ao Senhor por sua
Misericórdia infinita que, mesmo diante das catástrofes, do sofrimento, da dor,
da perda, da morte, da desolação, a última palavra é Cristo que nos convoca ao
seu encontro, porque Jesus nos ensina que ele é o vivente, e não o morto. Que
sejamos homens e mulheres iluminados pelo branco da santidade externa e interna
para enxergamos em tudo a misericórdia do Deus que está no meio de nós!
Padre Wagner Augusto Portugal
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