“Feliz todo aquele que teme ao Senhor e ajuda em seus caminhos.
Viverá do trabalho de suas mãos, para sua felicidade e bem-estar, aleluia!” (Sl
127,1s).
A memória de São José Operário foi
instituída, em 1955, pelo papa Pio XII, no contexto do dia dos trabalhadores,
celebrado, em todo mundo, em 1º de maio. O trabalho, fundamento sobre o qual se
edifica a vida familiar, concede ao homem e à mulher a oportunidade de
participar da obra criadora de Deus. Ao celebrar a memória do “carpinteiro de
Nazaré”, rezemos na intenção de todas as pessoas que buscam melhores condições
de vida por meio de um emprego digno.
Jesus se apresenta como “filho do
carpinteiro” e por isso é desprezado pelos seus conterrâneos. No entanto, e
justamente assim que ele quer ser reconhecido e honrado na pessoa de cada ser
humano, chamado a continuar no mundo a obra criadora de Deus.
Caros irmãos,
A primeira leitura – Gn 1,26-2,3 –
fala que a criação do homem é o auge da criação, porque, só ele, foi criado à
imagem e semelhança de Deus. Deus invisível reflete-se no rosto frágil do
homem. Homem e mulher são imagem de Deus: “Deus criou o ser humano à sua
imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher.” (v. 27). Como
Deus trino, o homem é capaz de uma relação interpessoal de amor. Mas a imagem
de Deus no homem reflete-se também na autoridade sobre o universo e na
inteligência criativa, com que pode dominar a natureza, desenvolvê-la e
transformá-la. A capacidade de trabalho permite ao homem tornar-se colaborador
de Deus na obra da criação. É sobretudo este aspeto que a liturgia de hoje põe
à nossa meditação.
Prezados
irmãos,
No Evangelho – Mateus 13,54-58 –
Jesus é chamado “o filho do carpinteiro” (Mt 13,55). De modo eminente, nesta
memória de São José se reconhece a dignidade do trabalho humano, como dever e
aperfeiçoamento do homem, exercício benéfico de seu domínio sobre o mundo
criado, serviço à comunidade, prolongamento da obra do Criador e como
contribuição ao plano da salvação (cf. GS, n. 34).
O caráter de sacrifício livre e
gratuito de si mesmo pela morte de Cruz emoldura e entrelaça a narrativa
evangélica. Três aspectos compõem o Evangelho de hoje: 1 – primeiro, por três
vezes – no início, no meio e no fim da passagem – Jesus diz: “Eu dou a minha
vida por mim mesmo em favor de minhas ovelhas” (v. 11.15.17-18). 2 – O segundo
aspecto está na contraposição entre Jesus, o Bom Pastor, e os mercenários. Os
mercenários, certamente os fariseus que dialogam com Ele no Templo (Jo 9,40),
não se importam com as ovelhas. Quando veem o lobo se aproximar, fogem e as
abandonam. O interesse do mercenário é explorar e se aproveitar das ovelhas.
Jesus, ao contrário, é o Bom Pastor. Seu interesse é proteger e conduzir a vida
de cada uma das ovelhas, por isso é capaz de amar a ponto de dar a própria vida
para que as ovelhas tenham vida plenamente (Jo 10,10). 3. Por fim, em terceiro
lugar, assim como Jesus é íntimo – conhece – do Pai, e vice-versa, o Bom Pastor
é íntimo de suas ovelhas e elas o conhecem, pois vivem em sua intimidade. As
ovelhas escutam e reconhecem a voz do Bom Pastor, seguindo-o sem temor. Nós,
hoje, formamos o redil do Senhor: escutamos e reconhecemos a sua voz, seguindo
os ensinamentos de seu Evangelho e vivendo conforme a sua Palavra de Salvação?
Como ovelhas, discípulos e discípulas, estamos dispostos, à semelhança de
jesus, a algum tipo de sacrifício em favor de nossos irmãos, por menor que
seja?
A condição familiar e laboral de Jesus impediu os seus concidadãos
de o reconhecerem como enviado de Deus, como profeta. Era “o filho do
carpinteiro” (v. 55). Segundo Lucas, ele mesmo era carpinteiro: “Não é Ele o
carpinteiro?..." (13, 55). O Filho de Deus feito homem quis ser membro de
uma família operária. Os seus conterrâneos não conseguiram ver mais do que
isso, desprezando-o, e não o reconhecendo como o Messias. Mas não somos nós que
havemos de ditar as condições do Reino, que pode realizar-se em qualquer
condição social e em qualquer trabalho. E Deus gosta de surpreender-nos. Na
família humilde e operária de Nazaré, o trabalho era expressão de amor. José
foi carpinteiro toda a vida. Jesus exerceu também essa profissão durante os
anos de vida escondida, em Nazaré. Depois do reencontro com os pais, em
Jerusalém, Jesus “desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso” (Lc
2, 51). A submissão e a obediência de Jesus, em Nazaré, devem entender-se como
participação no trabalho de José. Se a família de Nazaré é exemplo para as
famílias humanas na ordem da salvação e da santidade, também o é no trabalho de
Jesus, ao lado do carpinteiro José. O trabalho humano, particularmente o
trabalho manual, tem especial acentuação no Evangelho. Com a humanidade do Filho
de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da Encarnação, tal como foi
particularmente redimido, no mistério da Redenção. Trabalhando ao lado de
Jesus, José aproximou o trabalho humano da Redenção. A virtude da laboriosidade
teve especial importância no crescimento humano de Jesus “em sabedoria, em
estatura e em graça” (Lc 2, 52), uma vez que o trabalho é um bem do homem, que
transforma a natureza e torna o homem, em certo sentido, mais homem. O trabalho
sincero, humilde, disponível no amor, une-nos a Cristo, filho do carpinteiro,
Filho de Deus.
Os batizados, pelo nosso trabalho, além do mais, colaboramos na
obra do Criador, damos o nosso pequeno contributo pessoal para a transformação
do mundo e para a realização do projeto de Deus na história (cf. GS 34). O
trabalho é uma das expressões da nossa vida de pobreza. Os pobres trabalham
para viver... No trabalho, além do mais, precisamos de estar enamorados por
Cristo-pobre, trabalhador, “Filho do carpinteiro” (Mt 13, 55). Assim, como Ele,
teremos um coração pobre, sóbrio, com poucas exigências, aberto aos outros,
capaz de partilhar o que é e o que tem.
Caros irmãos,
Vamos a José! Foi com seu pai adotivo que Jesus aprendeu a
trabalhar. De fato, o trabalho enche o homem de dignidade e, em certo sentido,
o assemelha a Deus que, como se lê na Bíblia, “trabalha sempre” (cf. Jo 5,17).
Isso nos leva a pensar em tantas pessoas que se encontram desempregadas, muitas
vezes por causa de uma concepção econômica que busca somente o lucro egoísta.
Também São José teve de enfrentar momentos difíceis, saindo vencedor pela
confiança em Deus que nunca nos abandona.
Ao lado de São José, Nossa Senhora acompanhava com carinho e
ternura o crescimento do Filho de Deus feito homem. Aproveitemos o mês de maio
para reforçar a consciência da importância e beleza da oração do terço, que
permite aprender de Nossa Senhora a contemplar os mistérios da vida de Jesus,
percebendo sempre mais a Sua presença junto de nós.
Que São José ajude todos os trabalhadores a manterem o seu
trabalho, a terem um trabalho digno e justo. Aos desempregados a nossa
solidariedade e súplica para que tenham emprego e renda. Neste mês mariano, com
a ajuda de Nossa Senhora e São José, busquem sempre contemplar mais
intensamente a face do Senhor Jesus para que Ele seja o centro de vossos
pensamentos, das vossas orações, da vossa vida. Assim São José nos ajude e a
Virgem Santa nos ilumine, Amém!
Padre
Wagner Augusto Portugal
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