“Ó admirável poder da
Cruz! Ó inefável glória da Paixão! Nela se encontra o tribunal do Senhor, o
julgamento do mundo, o poder do Crucificado!” (São Leão Magno, Papa e
Doutor da Igreja).
Nosso Senhor Jesus
Cristo, após cravado na Santa Cruz para sofrer a Paixão a fim de nos salvar
proferiu sete Palavras que ficaram consignadas no coração da Igreja. Essas
Palavras de Cristo na Cruz, objeto de meditação dos Santos Padres e Doutores,
compõem um tesouro singular que o Senhor nos deixou no momento em que consumava
o Mistério de nossa Redenção. Passemos então a conhecer e aprofundar-nos nessas
eficazes Palavras que Senhor nos confiou. (cf. II Tim 3,16-17).
1ª Palavra: “Pai, perdoai-lhes, por
que não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Na Paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo, se efetiva o Mistério da Redenção do gênero humano, com
efeito, “por sua paixão,
Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado. Ele nos mereceu a vida nova no
Espírito Santo. Sua graça restaura o que o pecado deteriorou em nós”.
(Catecismo da Igreja Católica §1708)
A primeira Palavra que
Cristo profere na Cruz, é a súplica do perdão: “Pai, perdoai-lhes, por que não sabem o que fazem”. Em
meio à humanidade
devastada pelo pecado, em meio ao povo enganado que pedia a morte do Cordeiro
inocente, Cristo tem compaixão e pede o perdão para aqueles que o condenam.
Neste momento final,
Cristo retoma o ensino que outrora tinha proferido: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
orai pelos que vos maltratam e perseguem” (Mt 5,44). Dessa forma
ele deixa claro a necessidade e a importância do perdão, necessidade essa
consignada na oração que Ele mesmo ensinou a seus discípulos: “perdoai-nos as
nossas ofensas, assim como
nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mt 6,12).
“Então Pedro se
aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando
ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete
vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,21-22).
Que ensino grandioso
Nosso Senhor nos deixa nesta primeira Palavra proferida na Cruz, em meio a toda
dor e sofrimento em que se encontrava, por amor à humanidade, Ele não pensa em
si, mas pede por aqueles que o persegue.
“Ó ternura do amor de
Jesus Cristo para com os homens! Diz S. Agostinho que o Salvador, na mesma hora
em que recebia injúrias de seus inimigos, procurava-lhes o perdão: não atendia
tanto às injúrias que deles recebia e à morte a que o condenavam, como ao amor
que o obrigava a morrer por eles. Mas, dirá alguém, por que foi que Jesus pediu
ao Pai que lhes perdoasse, quando ele mesmo poderia perdoar- lhes as injúrias?
Responde S. Bernardo que ele rogou ao Pai, “não porque não pudesse pessoalmente
perdoar-lhes, mas para nos ensinar a orar pelos que nos perseguem”. (LIGÓRIO, Afonso M. de.
A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.Vol II, Ed.PDF, Fl. Castro, abril
2002,p.19)
E São Paulo, ao evangelizar os pagãos iria
justamente transmitir esse ensinamento recebido do Senhor (cf. I Cor 11,23):
“Abençoai os que vos
perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis. Não pagueis a ninguém o mal com o
mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Não vos vingueis uns
aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A
mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35). Se o teu
inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo
assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21s).Não te deixes
vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem”. (Rom 12, 14.17.19-21)
Assim, nesta primeira
Palavra de Cristo na Cruz, tomamos consciência da importância fundamental do
perdão na vida do Cristão, pois “Se
alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que
não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de
Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão”. (Jo
4,20-21).
2ª Palavra: “Em verdade eu te digo:
Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
Quando Cristo profere a
segunda Palavra na Cruz, observamos dois ladrões crucificados, um de cada lado.
Nestes dois ladrões vemos a prefiguração de duas atitudes que podemos abraçar
em nossa vida: a atitude do desespero em meio ao sofrimento, zombando da
salvação e, por conseguinte do Salvador; e a atitude de reconhecimento e
confissão do pecado, resignação em meio ao sofrimento presente, com vistas na
esperança da glória futura.
Neste momento da
Paixão, temos uma cena de ultrajes contra o Salvador:
A multidão
conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus,
dizendo: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido
de Deus! Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe
vinagre e diziam: Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. Por cima
de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus. Um dos malfeitores, ali
crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e
salva-nos a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu
que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram
os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Jesus, lembra-te
de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te
digo: hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23,35-43).
Que ensino grandioso
recebemos de Nosso Senhor ao conceder ao penitente arrependido a Salvação
eterna: hoje estarás comigo
no paraíso! Com estas palavras salvíficas Jesus nos mostra que
se nos arrependermos dos nossos pecados, O reconhecermos como nosso Salvador
(cf. Jo 1,12) e O buscarmos diligentemente, sem dúvidas estaremos com Ele.
Ora, Nosso Senhor veio
para “salvar o que estava
perdido” (Mt 18,11), e como predisse o profeta Ezequiel (cf. Ez
18,21-22), aquele que se arrepende dos pecados os tem como que apagados pelo
Senhor, estando liberto para uma nova vida, a vida da graça.
Sobre a grandiosidade
desta palavra de Cristo, ensina com maestria e inspiração S. Afonso de Ligório:
“Em verdade eu te digo
que hoje estarás comigo no paraíso”. Escreve um douto autor que com essa
palavra o Senhor nesse mesmo dia, imediatamente depois de sua morte, se lhe
mostrou sem véu, fazendo-o imensamente feliz, embora não lhe conferisse todas
as delícias do céu antes de entrar nele. Arnoldo Carnotense, no seu Tratado das
7 palavras, considera todas as virtudes que o bom ladrão S. Dimas praticou na
sua morte: “Ele crê, se arrepende, confessa, prega, ama, confia e ora”.
Praticou a fé, dizendo: “Quando chegares no teu reino”, crendo que Jesus Cristo
depois de sua morte havia de entrar vitorioso no reino de sua glória. “Teve por
perto que havia de reinar quem ele via morrer”, diz S. Gregório. Exerceu a
penitência, confessando seus pecados: “Nós padecemos justamente, pois recebemos
o que merecemos”. Diz S. Agostinho: Não ousou dizer: lembra-te de mim, senão
depois da confissão de sua iniqüidade e de depor o fardo de suas iniqüidades
(Serm. 130 de templ.). E S. Atanásio: “Ó bem-aventurado ladrão, que roubaste o
céu com essa confissão”. Outras belas virtudes praticou então esse santo
penitente: a pregação, anunciando a inocência de Jesus: “Este, porém, nenhum
mal praticou”. Exerceu o amor para com Deus, aceitando a morte com resignação
em castigo de seus pecados: “Recebemos o que merecemos”. S. Cipriano, S.
Jerônimo, S. Agostinho não duvidam por isso de chamá-lo mártir, porque os
algozes, ao quebrarem-lhe as pernas, o fizeram com maior atrocidade, por ter
louvado a inocência de Jesus, aceitando esse sofrimento por amor de seu
Senhor.” (LIGÓRIO,
Afonso M. de. Op.cit, p.20)
Assim, diante destes
fatos, fica-nos a lição da perseverança em meio às provações, do repudio que
devemos ter ao pecado, do reconhecimento do Cristo como Nosso Senhor e da
Salvação que ele nos traz. Com efeito nos diz São Paulo: “Coisas que os olhos não viram, nem os
ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que
Deus tem preparado para aqueles que o amam. (ICor 2,9). Tenho para mim que os
sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que
nos deve ser manifestada”. (Rom 8,18).
3ª Palavra: “Mulher, eis ai teu
filho. Eis ai tua mãe” (Jo 19,26-27).
Na terceira Palavra de
Cristo na Cruz, em meio a todo o sofrimento, Jesus mais uma vez, numa prova
inequívoca de amor à humanidade, nos dá a graça de termos a Sua santa Mãe por
nossa mãe! Vejamos o relato do Evangelho:
“Junto à cruz de Jesus
estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria
Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que
amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo:
Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”. (Jo 19,25-27).
Esta Palavra nos revela
fatos muito importantes, é uma prova de que Nossa Senhora não possuía outros
filhos, pois caso contrário não poderia estar desamparada neste momento,
revela-nos que era viúva de São José, que também não se encontrava ao seu lado,
como também o afirma S. Afonso de Ligório:
“Com isso deu a
entender que José já era morto, porque se ele ainda vivesse não o teria
separado de sua esposa” (LIGÓRIO, Afonso M. de. Op.cit, p.21).
Outra revelação
magnífica dessa Palavra é a necessidade de tão boa Mãe a nos acompanhar em
nossa caminhada rumo ao Salvador, ora todos os atos de Nosso Senhor Jesus
Cristo, são atos
salvíficos, assim, sendo, ao nos dar Sua Mãe como nossa Mãe,
Jesus Cristo visava a nossa salvação. João neste momento, o discípulo amado,
era a prefiguração de cada um de nós. E o que ele fez ao receber tamanha graça?
Imediatamente “o discípulo
a levou para a sua casa”. Todo verdadeiro Cristão deve ter por Mãe Nossa
Senhora, que insistentemente só tem um único pedido a nos fazer: “Fazei tudo o que Ele vos disser !” (Jo
2,5)
O Papa Leão XIII
explica com precisão a graça da Maternidade Espiritual de Maria, que nos foi
legada por Jesus:
“O mistério do imenso
amor de Cristo a nós teve, "entre outras, uma luminosa manifestação quando
Ele, perto de morrer, quis confiar ao seu discípulo João aquela mãe, sua
própria Mãe, com aquele solene testamento: "Eis aí teu filho!" Ora, na
pessoa de João, segundo o pensamento constante da Igreja, Cristo quis indicar o
gênero humano, e, particularmente, todos aqueles que a Ele adeririam pela fé. E
é justamente neste sentido que S. Anselmo de Cantuária exclama: "O'
Virgem, que privilégio pode ser tido em maior consideração do que esse pelo
qual és a mãe daqueles para os quais Cristo se digna de ser pai e irmão?"
(S. Anselmo de Cantuária., Oratio 47).Por sua parte, Maria generosamente
aceitou e tem cumprido essa singular e pesada missão, cujo inícios foram
consagrados no Cenáculo. Desde então ela ajudou admiravelmente os primeiros
fiéis com a santidade do seu exemplo, com a autoridade dos seus conselhos, com
a doçura dos seus incentivos, com a eficácia das Suas orações, tornando-se
assim verdadeiramente mãe da Igreja e mestra e rainha dos Apóstolos, aos quais
comunicou também aqueles divinos oráculos que ela "conservava ciosamente
no seu coração"”. (Papa Leão XIII. Carta Encíclica Adiutricem Populi, nº3, Roma, 25/09/1895).
Também Santo Afonso de
Ligório, nos traz uma edificante reflexão sobre essa Palavra do Senhor,
demonstrando o Amor de Cristo pela humanidade ao dar a Sua Mãe e o Amor da Mãe
ao Filho ao suportar com Ele as dores da Paixão.
“Estava, pois, a aflita
Mãe junto à cruz, e, assim como o Filho sacrificava a vida, sacrificava ela a
sua dor pela salvação dos homens, participando com suma resignação de todas as
penas e opróbrios que o Filho sofria ao expirar. Diz um autor que desabonam a
constância de Maria os que a representam desfalecida aos pés da cruz: ela foi a
mulher forte que não desmaia, não chora, como escreve S. Ambrósio: “Leio que
estava em pé e não leio que chorava” (In cap. 23 Lc). A dor, que a Santíssima
Virgem suportou na paixão do Filho, superou a todas as dores que pode padecer
um coração humano. A dor, porém, de Maria não foi uma dor estéril, como a das
outras mães vendo os sofrimentos de seus filhos; foi, pelo contrário, uma dor
frutuosa: pelos merecimentos dessa dor e por sua caridade, diz S. Agostinho,
assim como é ela mãe natural de nosso chefe Jesus Cristo, tornou-se então mãe
espiritual dos fiéis membros de Jesus, cooperando com sua caridade para nosso
nascimento e para fazer-nos filhos da Igreja (Lib. de sanc. virgin. c. 6).
Escreve S. Bernardo que no monte Calvário estes dois grandes mártires, Jesus e
Maria, se calavam: a grande dor que os oprimia tirava-lhes a faculdade de
falar. (De Mar.). A Mãe contemplava o Filho agonizante na cruz, e o Filho, a
Mãe agonizante ao pé da cruz, toda extenuada pela compaixão que sentir apor
suas penas. (LIGÓRIO,
Afonso M. de. Op.cit, p.21).
Assim, nessa Palavra de
Cristo, somos agraciados com Sua Mãe, que doravante estará a nosso lado a nos
conduzir a seu Filho amado.
“Jesus é o Filho
Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os
homens que Ele veio salvar: "Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez “o
primogênito entre uma multidão de irmãos” (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em
cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno”. (Catecismo da Igreja
Católica § 501).
4ª Palavra: “Elói, Elói, lammá
sabactáni?, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34-35)
Nesta quarta Palavra de
Cristo na Cruz, ele expressa a dor de carregar em seu corpo santo todo o pecado
da humanidade, a fim de redimi-la, tal dor é expressa com o brado: Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?
É preciso compreender
que Cristo sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não se valeu de sua
divindade para suportar as dores e sofrimentos da Paixão, mas pelo contrario,
os sentiu com maior dor pelo fato de ter um corpo santo (cf. Hb 4,15), sujeito
a pagar pelos pecados de todos os homens. São Paulo e Santo Afonso de Ligório
expressam com clareza o desprendimento de Jesus, ao assumir nossa condição
miserável, a fim de redimi-la:
“Sendo ele de condição
divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si
mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.E, sendo
exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente
até a morte, e morte de cruz”. (Fl 2,6-8).
“Cumpre saber que Jesus
estava sobrecarregado de todos os pecados do mundo inteiro e por isso, ainda
que pessoalmente fosse o mais santo de todos os homens, tendo de satisfazer por
todos os pecados deles, era tido pelo pior pecador do mundo e como tal fez-se
réu de todos e ofereceu-se para pagar por todos. E porque nós merecíamos ser
abandonados eternamente no inferno, no desespero eterno, quis ele ser
abandonado ou entregue a uma morte privada de todo o alívio, para assim
livrar-nos da morte eterna”. (LIGÓRIO, Afonso M. de. Op.cit, p.23).
Este sentimento de
abandono, sentido por Cristo padecente na Cruz, nos mostra a dor do abandono
que sente o pecador que se afasta de Deus. E todo esse sofrimento foi assumido
pelo Cristo em nosso lugar:
“Ele não cometeu
pecado, nem se achou falsidade em sua boca (Is 53,9). Ele, ultrajado, não
retribuía com idêntico ultraje; ele, maltratado, não proferia ameaças, mas
entregava-se àquele que julga com justiça. Carregou os nossos pecados em seu
corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a
justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados (Is 53,5). (I Pd 2,22-24)
S. Afonso de Ligório citando S. Leão Magno nos
traz importantes reflexões acerca dessa Palavra de Jesus, vejamos:
“Escreve S. Leão que
esse brado de Jesus não foi queixa, mas ensino (Serm. 17 de pas. c. 13).
Ensino, porque com aquele brado queria dar-nos a entender quão grande é a
malícia do pecado, que quase obrigava Deus a abandonar às penas, sem alívio,
seu dileto Filho, somente por ter ele tomado sobre si a obrigação de satisfazer
por nossos delitos. Jesus não foi então abandonado pela divindade, nem privado
da glória que fora comunicada à sua bendita alma desde o primeiro instante de
sua criação; foi, porém, privado de todo consolo sensível, com o qual costuma
Deus confortar seus fiéis servos nos seus padecimentos e foi deixado em trevas,
temores e amarguras, penas essas por nós merecidas. Esse abandono da presença
sensível de Deus experimentou Jesus também no horto de Getsêmani: mas o que
sofreu pregado na cruz foi maior e mais amargo”. (LIGÓRIO, Afonso M. de.
Op.cit, p.23).
O protestante Calvino, no seu comentário sobre
o Evangelho de São João, profere uma blasfêmia ao afirmar que Cristo sofrera o
pecado do desespero ao proferir essa Palavra. Explica S. Afonso de Ligório
apoiado nos Santos Padres, que tal expressão de Nosso Senhor, expressa
exatamente a dor dos sofrimentos provenientes da Paixão e jamais o desespero,
que só acomete àqueles que voluntariamente pelo pecado se privam da amizade de
Deus:
“Calvino, no seu
comentário sobre S. João, disse uma blasfêmia (...) Como poderia satisfazer
pelos nossos pecados com um pecado ainda maior, qual o do desespero? E como
conciliar-se esse desespero de que sonha Calvino, com estas palavras que Jesus
pronunciou depois: “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”?(Lc 23,46). A
verdade é, segundo a explicação de S. Jerônimo e S. Crisóstomo e outros, que
nossos Salvador lança essa exclamação de dor para nos patentear, não o seu
desespero, mas o tormento que sofria tendo uma morte privada de todo o alívio.”
(LIGÓRIO,
Afonso M. de. Op.cit, p.23).
Em fim, esta Palavra nos mostra a dor que
nossos pecados acarretam para o Salvador, entretanto, demonstram mais uma vez a
grandiosidade do amor e da misericórdia de Deus para com os homens, se fazendo
verdadeiro homem para padecer em nosso lugar:
“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para
que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16)
“Ao abraçar em seu
coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus "amou-os até o fim"
(Jo 13,11), "pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por
seus amigos” (Jo 15,13). Assim, no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou
o instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos
homens.” (Catecismo
da Igreja Católica § 609).
5ª Palavra: “Tenho sede” (Jo 19,28).
Na quinta Palavra de Cristo na Cruz, Ele
expressa a debilidade de seu corpo em meio aos tormentos suportados até aquele
instante, e exaurido pela perda de sangue e água durante todo esse martírio,
diz: “Tenho sede”.
“Em seguida, sabendo
Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura, disse:
Tenho
sede”. (Jo 19,28)
A “Escritura” aludida pelo evangelista S. João,
que deveria ser cumprida, é a que se encontra no Salmo de Davi:
“Puseram fel no meu
alimento, na minha sede deram-me vinagre para
beber”. (Sl
68,22).
Comentando sobre o cumprimento dessa Escritura,
diz São Tomás de Aquino:
“Jesus não diz que tem
sede para que seja consumada a profecia do Antigo Testamento; pelo contrário: a
profecia é que foi escrita porque devia, um dia, ser vivida pelo Cristo” (S. Tomás de Aquino.
Comentários de S. João, 19,28 in: AQUINO, Felipe. As Sete Palavras de Cristo na
Cruz. Lorena-SP: Cléofas, 2005, p.60).
Essa “sede”
de Jesus, não era um fator simplesmente biológico, decorrente
das circunstâncias da Paixão. Essa “sede”
de Jesus era algo mais profundo. É a sede de almas, a sede de
levar a salvação a cada ser humano da face da terra. Essa Palavra de Jesus na
Cruz nos remete ao momento em que Ele pede de beber à samaritana (cf. Jo
4,1-15) no poço de Jacó, como se pedisse a cada um de nós, a nossa vida, a
nossa alma para lhe saciar a sede. Ele afirma para a samaritana que Ele é a
água viva (cf. Jr 2,13), quem Dele beber não terá sede:
“Respondeu-lhe Jesus:
Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente
lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva. (...) o que beber da água
que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte
de água, que jorrará até a vida eterna”. (Jo 4, 10.14).
Santo Agostinho comenta essa passagem dizendo:
“Desejaria Ele beber,
realmente, quando dizia à samaritana: Dai-me de beber? E quando diz sobre a
Cruz: Tenho sede? Do que teria sede senão de nossas boas obras?” (S. Agostinho. Salmos
36, sermão 2,21.4 in: AQUINO, Felipe. Op.cit, p.62).
Também S. Afonso de Ligório ressalta essa sede
de salvar toda a humanidade, sentida por Jesus pendente na Cruz:
“Grande foi a sede
corporal que Jesus sofreu na cruz, já pelo sangue derramado no horto, já no
pretório pela flagelação e coroação de espinhos, e mais ainda na mesma cruz
onde de suas mãos e pés cravados escorriam rios de sangue como quatro fontes
naturais. Sua sede espiritual foi, porém, muito maior, isto é, o desejo ardente
que tinha de salvar todos os homens e de sofrer ainda mais por nós, como diz
Blósio, em prova de seu amor (Mar. sp. p. 3 c. 18). S. Lourenço Justianiano
escreve: “Esta sede nasce da fonte do amor” (De agon.c. 19)”. (LIGÓRIO, Afonso M. de.
Op.cit, p.24).
São Tomás de Aquino comentando essa Palavra de
Jesus expressa a veracidade do sofrimento e essa sede de salvar o mundo que o
Cristo sentiu na Paixão:
“Se Jesus diz: tenho
sede! é, antes de tudo, porque morre de morte verdadeira, não da morte de um
fantasma. Ainda aqui aparece o seu desejo ardente da salvação do gênero humano,
conforme diz São Paulo: Deus, nosso Salvador, quer que todos se salvem e cheguem
ao conhecimento da verdade (1 Tm 2,3-4). Jesus mesmo dissera: “o Filho do homem
veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Ora a veemência do
desejo exprime-se, muitas vezes, pela sede, como diz o salmista: “Minha alma
tem sede do Deus vivo” (S. Tomás de Aquino. Comentários de S. João, 19,28 in:
AQUINO, Felipe. Op.cit, p.62).
Com essa Palavra Cristo, continua a mostrar seu
incomensurável Amor pela humanidade, chegando a sentir sede física e
espiritual, pela salvação das almas. Santa Catarina de Sena ilustra
perfeitamente esse fato, ao dizer:
“É a fome e a sede do
ansioso desejo que Jesus tinha de nossa salvação, que o faziam exclamar sobre o
madeiro da cruz: Tenho sede! Como se dissesse: Tenho sede e desejo de vossa
salvação, mais do que vos pode demonstrar o suplício corporal da sede. Sim, por
que a sede do corpo é limitada, mas a sede do santo desejo não tem limites” (S. Catarina de Sena,
Cartas, 8 in: AQUINO,Felipe. Op.cit, p.62).
6ª Palavra: “Está consumado”.
“Havendo Jesus tomado
do vinagre, disse: Tudo está consumado” (J0 19,30)
Essa penúltima Palavra de Cristo na Cruz vem
selar todas as profecias a seu respeito. Nestes momentos finais Cristo nos diz
com essa Palavra que toda a vontade do Pai para nos salvar foi cumprida Nele e
por Ele.
“Nesse momento, Jesus,
antes de expirar, pôs diante dos olhos todos os sacrifícios da antiga lei
(todos eles figuras do sacrifício da cruz), todas as súplicas dos antigos
padres, todas as profecias realizadas na sua vida e na sua morte, todos os
opróbrios e ludíbrios preditos que ele devia suportar, e vendo que tudo se
havia realizado, disse: “Tudo está consumado””. (LIGÓRIO, Afonso M. de.
Op.cit, p.24).
Com essa Palavra Jesus nos ensina a perseverar
em nossa fé até o fim. Confiando Nele (cf. Fl 4,13) não devemos jamais olhar
para trás (cf. Gen 19,26; Lc 9,62), mas, seguir sempre em direção ao alvo (cf.
Fl 3,14), à nossa meta: a salvação que nos é ofertada gratuitamente por Deus.
S. Afonso de Ligório citando Santo Agostinho
explica com maestria este sentido profundo dessa Palavra de Jesus ao afirmar
que:
“S. Agostinho escreve:
“O que te ensinou pendente da cruz, não querendo dela descer, senão que fosses
forte em teu Deus?” (In ps. 70). Jesus quis consumar o seu sacrifício com a
morte, para nos persuadir de que Deus não recompensa com a glória senão aqueles
que perseveram no bem até ao fim, como o faz sentir por S. Mateus: “Quem
perseverar até ao fim será salvo” (Mt 10,22). Quando, pois, ou seja por motivo
de nossas paixões ou das tentações do demônio ou das perseguições dos homens
nos sentirmos molestados e levados a perder a paciência e a ofender a Deus,
olhemos para Jesus crucificado que derrama todo o seu sangue por nossa salvação
e pensemos que nós ainda não derramamos uma só gota por seu amor. É o que diz
S. Paulo: “Pois ainda não tendes resistido até ao sangue combatendo contra o
pecado” (Hb 12,4)”. (LIGÓRIO,
Afonso M. de. Op.cit, p.24).
O saudoso Santo Padre João Paulo II, em uma
Carta escrita aos Sacerdotes por ocasião da Quinta – Feira Santa no ano de
1998, nos traz uma reflexão muito significativa acerca da consumação do
sacrifício salvífico de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele escreveu:
“O Evangelho de S.
João, com palavras cheias de carinho e de mistério, refere a narração daquela
primeira Quinta-Feira Santa, quando tomou lugar à mesa com os discípulos, no
Cenáculo, o Senhor — « ...Ele que amara os Seus que estavam no mundo, levou até
ao extremo o Seu amor por eles » (13,1). Até ao extremo: até à instituição da
Eucaristia, antecipação de Sexta-Feira Santa, do sacrifício da cruz e do
mistério pascal. Durante a Última Ceia, Cristo toma o pão nas mãos e pronuncia
as primeiras palavras da consagração: « Isto é o meu Corpo que será entregue
por vós ». Logo a seguir, proclama sobre o cálice com vinho as sucessivas
palavras da consagração: « Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e
eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para remissão dos
pecados », e acrescenta: « Fazei isto em memória de Mim ». Cumpre-se assim, no
Cenáculo, de modo incruento o Sacrifício da Nova Aliança, que será realizado
com o derramamento de sangue no dia seguinte, quando Cristo disser sobre a
cruz: « Consummatum est », « Tudo está consumado! » (Jo 19,30). Oferecido uma
vez por todas sobre o Calvário, este Sacrifício é confiado aos Apóstolos,
graças ao Espírito Santo, como o Santíssimo Sacramento da Igreja”. (Papa João Paulo II.
Carta aos Sacerdotes por ocasião da Quinta Feira Santa de 1998, Vaticano,
25/03/1998).
Assim, temos nessa Palavra de Jesus o
cumprimento das Escrituras, e o ensino salvífico de perseverar até o fim,
confiados sempre no Senhor.
“Como pela
desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim, pela
obediência de um só, todos se tornarão justos" (Rm 5,19). Por sua
obediência até a morte, Jesus realizou a substituição do Servo Sofredor que
"oferece sua vida em sacrifício expiatório", "quando carregava o
pecado das multidões", "que ele justifica levando sobre si o pecado
de muitos". Jesus prestou reparação por nossas faltas e satisfez o Pai por
nossos pecados”. (Catecismo
da Igreja Católica § 615)
7ª Palavra: “Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Consumada as Escrituras, Nosso Senhor Jesus
Cristo livremente entrega o espírito ao Pai, realizando a redenção definitiva
da humanidade. É a realização do sacrifício da Nova e Eterna Aliança.
“A morte de Cristo é ao
mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos homens
pelo "cordeiro que tira o pecado do mundo", e o sacrifício da Nova
Aliança, que reconduz o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o com ele pelo
"sangue derramado por muitos para remissão dos pecados". (Catecismo da Igreja
Católica § 613)
São Lucas escreve:
“Era quase à hora sexta
e em toda a terra houve trevas até a hora nona. Escureceu-se o sol e o véu do
templo rasgou-se pelo meio. Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas
tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou. Vendo o centurião o
que acontecia, deu glória a Deus e disse: Na verdade, este homem era um justo”.
(Lc
23,44-47)
Este do véu do Templo de Jerusalém que se rasga
vem simbolizar justamente o advento da Nova e Eterna Aliança: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os
profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição”. (Mt 5,17)
“O cumprimento perfeito
da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido sujeito à Lei na pessoa
do Filho. Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada nas tábuas de pedra, mas
"no fundo do coração" (Jr 31,33) do Servo, o qual, pelo fato de "trazer
fielmente o direito" (Is 42,3), se tornou "a Aliança do povo"
(Is 42,6). Jesus cumpriu a Lei até o ponto de tomar sobre si "a maldição
da Lei” in quod illi incurrerant "qui non permanent in omnibus, quae
scripta sunt, ut faciant ea", na qual incorrerreram aqueles que "não
praticam todos os preceitos da mesma, pois “a morte de Cristo aconteceu para
resgatar as transgressões cometidas no Regime da Primeira Aliança" (Hb 9,
15)”. (Catecismo
da Igreja Católica § 580).
Outro fato singular dessa Palavra de Jesus foi
a imediata conversão do centurião romano que acompanhava ao pé da Cruz (cf. Jo
3,14-15) a morte do Redentor: “Vendo
o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e disse: Na verdade, este homem era um
justo” (Lc
23,47).
Com essa Palavra Jesus nos ensina a
entregar-nos sempre, livre e totalmente ao Pai, que está sempre de braços
abertos a nos esperar (cf. Lc 15,20). S. Afonso de Ligório apoiado nos Santos
Padres ensina sobre essa Palavra:
“Escreve Eutíquio que
Jesus proferiu estas palavras com grande voz, para dar a entender que ele era
verdadeiramente o Filho de Deus, chamando a Deus seu Pai. S. Jerônimo escreve
que ele deu este grande brado para demonstrar que não morria por necessidade,
mas por própria vontade, emitindo um brado tão forte no momento mesmo em que
estava para expirar. Isso combina com o que disse Jesus em vida, que ele de
livre vontade sacrificava sua vida por nós,suas ovelhas, e não pela vontade ou
malícia de seus inimigos. “Eu ponho minha alma por minhas ovelhas... ninguém ma
pode tirar, eu mesmo a entrego de livre querer” (Jo 10,15). S. Atanásio ajunta
que Jesus, recomendando-se ao Pai, recomendou-lhe justamente todos os fiéis que
por seu intermédio deveriam receber a salvação, já que a cabeça com seus
membros constituem um só corpo. E o santo conclui que Jesus então tinha em
mente repetir o pedido feito antes: “Pai santo, conserva-os em teu nome, para
que sejam um como nós” (Jo 17,11), e termina: “Pai, os que me destes quero que
onde eu estiver estejam comigo” (LIGÓRIO, Afonso M. de. Op.cit, p.25).
Neste momento em que Cristo consuma o Santo
Sacrifício para a redenção da humanidade, sua Cruz torna-se venerável para nós
cristãos! Ela que fora objeto de maldição será doravante símbolo da salvação
como nos ensina São Paulo:
“A linguagem da cruz é
loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma
força divina”. (I
Cor 1,18); “Quanto a mim, não
pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. (Gal
6,14); “Espoliou os
principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz”. (Col
2,15).
O Sagrado Magistério da Igreja nos ensina que:
"Sua sanctissima
passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit - Por sua santíssima
Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio
de Trento, sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio
de salvação eterna". E a Igreja venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes unica - Salve, ó Cruz, única
esperança". (Catecismo
da Igreja Católica § 617)
Iluminados por essa Santa Palavra do Senhor
possamos confiar-nos sempre a Ele, fazendo assim como o Cristo, a vontade do
Pai: “Davi punha toda a sua
esperança no futuro Redentor, dizendo: “Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu
espírito; pois vós me remistes, Senhor Deus da verdade” (Sl 39,6). Quanto mais
nós devemos confiar em Jesus Cristo, que já realizou a nossa redenção? Digamos-lhe,
pois, com grande confiança: “Vós me remistes, Senhor, por isso em vossas mãos
encomendo o meu espírito.” (LIGÓRIO, Afonso M. de. Op.cit, p.25).
Salve, ó Cruz, única esperança!
Crux, Ave, Spes Única
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Referências Bibliográficas
AQUINO, Felipe. As Sete Palavras de Cristo na Cruz.
Lorena-SP: Cléofas, 2005.
Bíblia Sagrada. 14º Ed. São Paulo:
Ave Maria, 1998.
Catecismo da Igreja Católica – Edição típica
Vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.
LIGÓRIO, Afonso M. de. A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vol. II, Ed.PDF, Fl. Castro, abril 2002.
Papa João Paulo II. Carta aos Sacerdotes por ocasião da
Quinta Feira Santa de 1998, Vaticano, 25/03/1998.
Papa Leão XIII. Carta Encíclica Adiutricem Populi, Roma, 25/09/1895.
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