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3º Domingo da Quaresma – C



“Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, porque livra os meus pés da armadilha. Olhai para mim, tende piedade, pois vivo sozinho e infeliz”. (cf. Sl 24,15s).

 

Meus prezados Irmãos,

 

            Vamos caminhando no nosso retiro de quaresma. No primeiro domingo tratamos das tentações que Cristo sofreu na sua vida pública que são as tentações que cada um de nós é diariamente tentado pelas forças do demônio: o poder, o ter e a vontade de se colocar no lugar de Deus. No segundo domingo refletimos sobre a transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo no monte Tabor: todos nós somos convidados a nos retirar para rezar como Jesus para sermos transfigurados. Que brilhe em nossas vidas a luz magnífica de Nosso Senhor Jesus Cristo! Neste domingo nós somos convidados a refletir sobre o fogo que vem de Deus, ou seja, Deus é fogo com nossos pecados, mas tem paciência com a nossa humanidade.

            A liturgia de hoje, a metade do tempo da quaresma, nos fala de CONVERSÃO. O Evangelho de hoje realça a graça de Deus. Lucas é o evangelista da graça, dos pobres e dos pecadores, daqueles que estão à margem da sociedade e da própria comunidade eclesial. Para receber a graça que nos renova devemos estar conscientes de sermos pecadores. Porém, ao mesmo tempo em que tomamos consciência de que somos pecadores, devemos ter diante de nossos olhos a perspectiva da graça e do perdão de Deus, nosso Pai e Pastor.

 

Caros irmãos,

           

            A Primeira Leitura (cf. Ex 3,1-8a.13-15) que nos apresenta Deus na sarça ardente. Esta perícope é a manifestação de Deus no Horeb e a vocação de Moisés para libertar Israel e concluir a Aliança em seu nome. A revelação a Moisés é interpretada como a continuação da revelação a Abraão, Issac e Jacó. Esta “história da Salvação” completa-se em Cristo, na Nova Aliança. Para Israel, o Êxodo tornar-se-á, assim, o modelo e paradigma de todas as libertações. A partir desta experiência, Israel descobriu a pedagogia do Deus libertador e soube que Deus Pai está vivo e atuante na história humana, agindo no coração e na vida de todos os que lutam para tornar este mundo melhor. Israel descobriu que, no plano de Deus, aquilo que oprime e destrói os homens não tem lugar; e que sempre que alguém luta para ser livre e feliz, Deus está com essa pessoa e age nela. Na libertação do Egito, os israelitas – e, através deles, toda a humanidade – descobriram a realidade do Deus salvador e libertador. Ontem, como hoje, os povos lutam para se libertarem do colonialismo, do imperialismo, das ditaduras; os pobres lutam para se libertarem da miséria, da ignorância, da doença, das estruturas injustas; os marginalizados lutam pelo direito à integração plena na sociedade; os operários lutam pela defesa dos seus direitos e do seu trabalho; as mulheres lutam pela defesa da sua dignidade. Deus age na nossa vida e na nossa história através de homens de boa vontade, que se deixam desafiar por Deus e que aceitam ser seus instrumentos na libertação do mundo.

 

Irmãos e irmãs,

 

            Deus perdoa nossos pecados, mas quer ver os frutos da penitência, os frutos das boas obras. Deus tem paciência, espera pelo pecador; sua paciência é infinita, mas é limitado o tempo que a criatura humana tem para produzir frutos, porque só nesta vida presente podemos praticar e fazer o bem.

            Deus é misericordioso para conosco, mas exige que sejamos misericordiosos para com o próximo. O que adianta receber o perdão de Deus se nós não perdoamos o nosso semelhante. Isso não é cristão! A misericórdia é uma iniciativa de Deus. Nossa primeira resposta é o arrependimento de nossos pecados e nossa resposta em segundo momento é a compreensão para com a fraqueza dos outros. A misericórdia de Deus se transforma em amor para conosco, até o extremo de uma comunhão.

            Pilatos, como governador romano, tinha verdadeira antipatia pelos galileus, dos quais desconfiava sempre que estivessem tramando algum motim. Os galileus sempre se revoltavam com razão: eram explorados, eram quase escravizados, pagavam impostos elevadíssimos. Apresentar sacrifícios a Deus no templo era visto por Pilatos como conspiração contra o poder opressor e invasor de Roma. Sacrificar galileus defronte para o Templo era um sacrilégio! Na mentalidade dos galileus se eles fossem mortos na hora em que praticavam o bem, deveriam estar cobertos de pecados. Caso contrário Deus devia tê-los livrado da desgraça. Esta ligação entre castigo e pecado persiste ainda hoje na mentalidade de muitos de nossos irmãos.  Mas é uma visão errada, porque Deus é misericórdia e não castiga o seu povo santo e fiel.

 

Meus caros irmãos,

 

            O homem naturalmente é inclinado para o mal e a prática da maldade. A pergunta feita a Jesus no Evangelho (cf. Lc 13,1-9) tinha como escopo saber o que Jesus achava da morte violenta era conseqüência do castigo por culpa grave. Jesus não responde sobre a culpabilidade dos mortos, mas recorda que todos somos pecadores e todos precisamos fazer penitência. Quem não faz penitência e não procura a conversão poderá ter uma morte muito pior do que a sorte dos galileus: a morte no fogo do inferno.

            A vida humana é efêmera: já dizia o poeta que todos nós devemos passar as nossas existências distribuindo o bem, plantando a caridade e regando a humildade de atitudes, todas estas virtudes que pavimentam uma grande autopista rumo ao céu.

            A figura bíblica da figueira é representada pelo povo. A figueira é cada um de nós. O dono da vinha e da figueira é Deus. O cultivador é Jesus. Jesus intercede pelo povo. Pede que Deus tenha paciência com o seu povo, na espera de que o povo e cada um de nós ouça sua palavra, colocando-a em prática, buscando a conversão sincera e a mudança de vida. Jesus quer que nós possamos dar bons frutos. Foi para isso que Jesus se encarnou e nos oferece todas as possibilidades de mudança de VIDA. JESUS é misericórdia, é perdão, é acolhida, é caridade, é amor.

A proposta principal que Jesus apresenta neste episódio chama-se “conversão” (“metanoia”). Não se trata de penitência externa, ou de um simples arrependimento dos pecados; trata-se de um convite à mudança radical, à reformulação total da vida, da mentalidade, das atitudes, de forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. É este caminho a que somos chamados a percorrer neste tempo, a fim de renascermos, com Jesus, para a vida nova do Homem Novo.

 

 

Irmãos e Irmãs,

 

            Duc in altum! Voltemos nossos corações para Deus, o Salvador! Vamos nos abrir a Deus, a Palavra, a conversão, a mudança de vida, a vida plena em Deus. A conversão de que fala Jesus hoje está no centro de sua pregação, desde o início da vida pública: Ele veio para chamar os pobres e os pecadores a conversão.

            Todos nós somos pecadores! Todos nós temos que mudar alguma coisa em nossa vida, em nossa caminhada. Todos nós devemos buscar a perfeição em Deus. Conversão que não é um puro ritualismo sacramental! O rito é necessário. Mas do que é rito é à vontade, a intenção que deve ser verdadeira, para valer!

            Cristo é como o jardineiro paciente que rega, aduba e poda a planta. Jesus faz isso conosco! Mas Cristo diz que se a figueira não der bons frutos é necessário cortá-la. Que nos afaste esta ameaça do Evangelista se nós não nos convertermos.

A proposta principal que Jesus apresenta neste episódio chama-se “conversão” (“metanoia”). Não se trata de penitência externa, ou de um simples arrependimento dos pecados; trata-se de um convite à mudança radical, à reformulação total da vida, da mentalidade, das atitudes, de forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. É este caminho a que somos chamados a percorrer neste tempo, a fim de renascermos, com Jesus, para a vida nova do Homem Novo.

 

 

Meus caros Irmãos,

 

            A primeira leitura nos fala do Temor de Deus. Assistimos à grandiosa revelação de Deus a Moisés, na sarça ardente. Deus está em fogo inacessível. Deus devora quem dele se aproxima. Deus está aí, com seu poder e sua fidelidade, mas também com sua justiça: na segunda leitura, Paulo nos ensina a lição da história de Israel: eles tinham a promessa, os privilégios, à proteção de Deus. Todos os israelitas experimentaram, no deserto, a mão de Deus que os conduzia. Todos foram saciados com o alimento celestial e aliviaram-se na água do rochedo. Contudo, a maioria deles, por causa de sua dureza de coração, foram rejeitados por Deus. Com vistas ao fim dos tempos e ao Juízo, São Paulo avisa seus leitores para que aprendam a lição: quem pecar e não procurar a conversão não receberá a proteção de Deus.

 

Caros irmãos,

 

            A segunda leitura da missa deste domingo (cf. 1Cor 10,1-6.10-12) nos apresenta a Teologia da História, com as conseqüentes lições do Êxodo. O Apóstolo São Paulo tira as lições da história de Israel: a passagem pelo Mar Vermelho, o maná, a água do rochedo, tudo isso aponta o Cristo, o novo Moisés, e os sacramentos que dão sustento ao novo povo de Deus. Mas nem o batismo, nem a Eucaristia garantem a salvação mecanicamente, mas antes exigem do homem a cotidiana resposta da fé, atuante na caridade.

Os coríntios, embora tenham recebido o Batismo e participado da Eucaristia, não têm a salvação garantida: não bastam os ritos, não basta a letra. Apesar do cumprimento das regras, os sacramentos não são mágicos: não significam nada e não realizam nada se não houver uma adesão verdadeira à vontade de Deus. Aos “fortes” e “autossuficientes” de Corinto, São Paulo recorda: o fundamental, na vivência da fé, não é comer ou não carne imolada aos ídolos; mas é levar uma vida coerente com as exigências de Deus e viver em verdadeira comunhão com Deus.

                                                                                  

Prezados irmãos,

Neste domingo somos chamados a uma autêntica conversão. Na relação com Deus, às vezes duvidamos do seu amor por nós e temos a tentação de atribuir-lhe a responsabilidade por coisas ruins que nos acontecem. Deus não faz o mal, nem age como mereceríamos. O mal pode ter diferentes origens. Não cabe aqui a discussão filosófico-teológica a respeito desse assunto. Contudo, a liturgia deste dia convida a contemplar a presença de Deus mesmo em meio às adversidades da vida, aos eventos trágicos e aos piores momentos. Ele não nos abandona e, em tudo que nos acontece, pede-nos conversão de vida. Os infortúnios são ocasiões para melhorar o jeito de ser.

A proximidade desse Senhor que por amor nos chama, como chamou Moisés, deve ser motivo de alegria e confiança, não de medo e distanciamento. Ele nos ama e deseja-nos o melhor, por isso permanece conosco e aguarda com benevolência nossa decisão de mudança de vida. Perseverando nessa relação de amor com Deus, a eternidade vai acontecendo em nossa existência temporal, até quando estivermos definitivamente face a face com Ele.

Vamos propor para a comunidade um exame de consciência, analisando seus frutos de justiça para o mundo. Nossas atitudes são frutos de justiça e solidariedade? Busquemos ver os acontecimentos do presente – por exemplo, o discurso de ódio disseminado entre os cristãos – como dados a serem transformados, em vista de nossa conversão comunitária. A Santa Missa deve ser o espaço do encontro com aquele que é o Senhor de nossa vida, que nos transforma em novas criaturas, pois as coisas antigas já se passaram.

 

Irmãos e Irmãs,

 

            Levemos para a semana que Jesus nos alerta que as catástrofes não devem ser interpretadas como castigos pessoais, mas como apelo à conversão para os sobreviventes das intempéries. Deus concede o tempo necessário para se produzir em frutos de boas obras a misericórdia de Deus. Importa aproveitar a Jesus Misericordioso como tempo propicio que nos dá pistas para a conversão.

            Quaresma nos pede intensa oração, redobrada penitência e o gesto concreto de auxílio aos pobres com o jejum e a esmola. Assim iremos purificados para a Páscoa. Assim hoje bem nos cabe a advertência inicial da Quarta-feira de Cinzas: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” Amém!

 

 

Padre Wagner Augusto Portugal

 

 

 

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