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Vigília de Natal, C

Vigília de Natal - C - Portugal “Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!”

A glória de Deus se manifesta nesta noite Santa pelo nascimento do Salvador: “Magno cum gaudio Christum natum adoremus. Salvator noster, dilectissimi, natus est: gaudeamus”. Com Júbilo no coração adoremos Cristo nascido, com um novo cântico. Caríssimos, alegrai-vos, pois, o nosso Salvador é Nascido!

Assim nesta noite Santa nos preparamos com grande alegria para esta notícia jubilosa: Jesus nasceu para nos salvar! Vamos nos centrar no principal do Natal: não as festas exteriores, mais a interioridade, a luminosidade que vem do Menino que é nos é dado, homem e Deus, em tudo igual a nós, exceto no pecado, com uma missão muito específica: apagar a mancha do antigo inimigo, o pecado original, e nos conceder a salvação eterna.

Meus irmãos,

A liturgia desta noite santa transcorre com a santa lembrança da preparação da vinda do Cristo na história da Salvação. A Primeira Leitura (cf. Is. 62,1-5) retoma o nascimento de um príncipe, no tempo de Isaías, setecentos anos antes do nascimento de Cristo, que significa esperança para o povo abalado pelas invasões assírias. Deus volta a seu povo. A leitura situa-se no tempo pós-exílico e do retorno à terra, tempo de reconstrução. Narra, em uma linguagem de núpcias, o encontro de Deus com Jerusalém. Esse encontro, na liturgia de hoje, se dá com o Natal do Senhor, que é a festa do encontro de Deus com a humanidade. O profeta desempenha o papel de intercessor e consolador. Deus parece calar-se. Por isso, o profeta fala, lembra a Deus a necessidade de seu povo. Deus o atenderá, pois, a Cidade Santa é sua jóia. Ele a reconstruirá, fará novas núpcias com ela.

O salmo responsorial comenta que tais fatos são a prova de que Deus governa o mundo com justiça e os povos segundo sua fidelidade.

A Segunda leitura (cf. At 13,16-17.22-25) anuncia o tempo de Cristo como o tempo em que se manifesta sua graça e a amizade de Deus, transformando a nossa noite em dia e em luz. A pregação de Paulo; testemunho a respeito do “Filho de Davi”. Paulo, na sua primeira viagem, é convidado a falar na sinagoga de Antioquia da Psídia. Resume a História da Salvação, chegada à plenitude em Jesus Cristo, Filho de Davi, anunciado por João Batista, que convocara o povo para a conversão.

Estimados Irmãos,

Jesus é colocado hoje como o Sol invencível, o sol da justiça, o sol sempre nascente, o sol sem ocaso, a luz que apareceu nas trevas para iluminar os povos. Isaías relembra que o povo caminhava nas trevas e viu a luz, uma grande luz que hoje podemos afirmar que é o Senhor Jesus (cf. Mt 1,1-25 ou 1,18-25).

As trevas sempre representaram nas Sagradas Escrituras a desgraça, a dor, a opressão em todas as suas facetas, a escravidão e a própria morte. E a luz indica prosperidade, felicidade, vida plena, fecundidade, bem-estar, presença de Deus. No meio da noite de Natal, Deus se faz presente na carne humana. Troca-se o próprio destino do homem, que caminhava pela estrada da morte e a partir de hoje caminhará com Jesus, pela estrada da vida. Jesus vem nos trazer, com seu nascimento, a graça e a vida plena, a vida eterna, as alegrias celestiais.

O Evangelho celebra esse mistério do encontro de Deus com a humanidade, ao passo que narra o nascimento de Jesus. Temos o relato da origem divina do Senhor: Maria fica grávida pela ação do Espírito Santo (Mt 1,18) e José, homem justo, que ainda não havia recebido Maria por sua esposa, decide abandoná-la em segredo (Mt 1,19). Um anjo de Deus aparece e explica a José aquilo que se passava, demonstrando a importância de ele permanecer com Maria (Mt 1,20s). Dessa forma, o pai adotivo de Jesus nos ensina que a obediência ao Senhor é fator decisivo para o cumprimento da vontade divina em nossa realidade.

Queridos amigos,

Contemplando a riqueza desta noite Santa nós temos a certeza de que todos nós éramos protagonistas da salvação. Lá estava, no teatro da salvação, os homens e as mulheres de todos os tempos: na simplicidade de um curral estava Maria e José, dois homens simples do povo, a quem coube realizar, por desígnio de Deus, o sonho do humano e do divino: o nascimento do Salvador. Bem no meio da natureza, num ambiente rural como o nosso santo ambiente das Minas, chamadas de Gerais e de Católica, para contemplar o teatro da salvação. Tudo estava representado para o Nascimento do Redentor: as pedras, as plantas, os animais, os homens. O mundo racional e o mundo irracional se ajoelham, reverentemente, diante do Deus Nascido, do Divino Infante.

A humanidade está representada por JOSÉ E MARIA. José, o homem justo, descendente da casa real de Davi, tornado pai adotivo de Jesus, por vontade de Deus, dá ao Menino o estado legal de descendente davídico, como previam os profetas e como esperava o povo eleito. Jesus se torna o “rebento do tronco de Jessé, cheio do Espírito Santo do Senhor”. Maria, a Mãe, pelos mistérios de Cristo, preservada de todo o pecado, a “cheia de graça”, a bendita entre todas as mulheres. Assumindo a carne humana em Maria, Jesus assumiu nossa condição, para que nós entrássemos na condição d’Ele. Foi na carne de Maria que nós, na expressão de São Pedro: “nos tornamos participantes da natureza divina”. E o sonho de Deus, de todas estas verdades, se realizou nesta noite Santa.

Estimados irmãos,

O Menino que nasce nesta noite veio fazer a maior de todas as revoluções: uma revolução silenciosa, amorosa em favor da humanidade. Jesus vem como o Príncipe da Paz, conforme anuncia Isaias em 9,5. Seu Reino se construirá com muito trabalho e empenho, em meio a muitas dificuldades e perseguições, mas Jesus “se estabelecerá, firmando no direito e na justiça, para sempre” (cf. Is 9,6). A partir desta Noite Santa, a paz é possível, porque o Filho de Deus passa a morar entre nós, como fermento na massa.

Firme, sólido e eterno se coloca a missão que Jesus nos convida a viver: o seu Reino. Reino estabelecido neste mundo por Jesus que nem o furacão mais violento nem as portas do inferno prevalecerão sobre ele. Jesus é a pedra angular que dá equilíbrio a Igreja e a humanidade. Sobre Jesus se constituirá o novo destino da humanidade. São Paulo chama Jesus Cristo de Pedra da qual jorram as águas da espiritualidade, isto é, a água que pode saciar a sede de Deus. O Menino nascido esta noite é a única ligação existente entre o céu e a terra, entre Deus e o homem. E é o único que pode dar ao homem toda a divindade e a eterna juventude, sempre desejada pelo homem. Cristo é, à partir de agora e sempre, a nossa segurança e refúgio, nossa liberdade e garantia.

Jesus é o primogênito de todas as criaturas animadas e inanimadas, porque n’Ele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e invisíveis. (cf. Cl. 1,15)

Com Jesus, nesta noite Santa, nos veio a adoção divina, com Ele nos veio a pacificação e a graça, com Ele e por Ele formamos uma definitiva comunhão com Deus.

Prezados irmãos,

Mateus inicia seu Evangelho com uma genealogia de Jesus, através de José, incluindo-o na descendência de Davi. Para nos dar a conhecer que em Jesus Cristo se cumprem as promessas divinas de salvação feitas a Abraão em favor de toda a humanidade (Gen 12, 3). Igualmente se cumpre a profecia de um reino eterno dada por meio do profeta Natan ao rei David (2 Sam 7, 12-16). Assim no Evangelho de hoje Mateus, nos mostra a ascendência de Jesus Cristo segundo a Sua humanidade, ao mesmo tempo em que dá uma indicação da plenitude a que chega a História da Salvação com a Encarnação do Filho de Deus, por obra do Espírito Santo. Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é o Messias esperado. Celebramos a festa da natividade de Maria. Ela, jovem pobre e simples é agraciada e escolhida por Deus para ser a mãe de Jesus, o Filho de Deus que se fez homem e habitou entre nós. Grande foi à alegria que envolveu os Pais de Maria pelo seu nascimento. Todavia, maior é a alegria do mundo. Pois por ela veio o Redentor do mundo.

A grande mensagem apresentada por Mateus é a importância da genealogia entre os judeus. Pois ela representa a estrutura de três grupos. Cada grupo consta de catorze elos que mostram o desenvolvimento progressivo da história sagrada. Pela genealogia a pessoa via a sua identidade. Via-se ligada à família e tribo. Por ela se pertencia ou não ao eleito. Porém, lendo o relato encontramos os nomes de quatro mulheres Tamar (cfr Gen 38). São mulheres estrangeiras, que de um ou outro modo se incorporam na história de Israel, para dizer que a salvação divina abarca toda a humanidade.

Cita-se personagens pecadores, mostrando que os caminhos de Deus são diferentes dos caminhos humanos. Através de homens cujo comportamento não foi reto Deus vai realizar os Seus planos de salvação. Ele nos salva, nos santifica e nos escolhe para fazer o bem, apesar dos nossos pecados e infidelidades. Tal é o realismo que Deus quis fazer constar na história da nossa salvação.

O povo vai parar em Babilônia fala-se em 2 Rs 24-25 para se cumpre a ameaça dos profetas ao povo de Israel e aos seus reis, como castigo da sua infidelidade aos mandamentos da Lei de Deus, especialmente ao primeiro.

Um aspecto a salientar é o fato de entre os Hebreus as genealogias fazer-se por via masculina. José, como esposo de Maria, era o pai legal de Jesus. A figura do pai legal é equivalente quanto a direitos e obrigações à do verdadeiro pai. Neste fato se fundamenta solidamente a doutrina e a devoção ao Santo Patriarca como padroeiro universal da Igreja, visto que foi escolhido para desempenhar uma função muito singular no plano divino da nossa salvação: pela paternidade legal de São José é Jesus Cristo Messias descendente de Davi.

Concluindo diremos que o relato do nascimento de Jesus ensina através do cumprimento da profecia de Isaías 7, 14 que Jesus é descendente de David pela via legal de José; que Maria é a Virgem que dá à luz segundo a profecia; e por último que Jesus Cristo saiu do seio materno sem detrimento algum da virgindade de Sua Mãe. Por isso, com louvores, celebramos a sempre virgem imaculada, concebida sem pecado.

Meus amigos,

Jesus nos dá nesta noite uma demonstração do espírito que deve reinar nos cristãos: tudo em comum, tudo para que Deus seja manifestado em nosso meio como o Deus da partilha e da misericórdia. O nascimento de Jesus no meio dos pobres é o sinal

de que Deus dá aos pastores – gente bem pobre – para mostrar que o Messias veio ao mundo. No meio das trevas, eles se encontram envolvidos em luz... a luz que é o Cristo que nos dá a salvação.

Feliz Natal a todos! O centro desta noite e de nossa vida deve ser o Cristo nascido, luz da humanidade e centro de nossa santidade. Amém, Aleluia!

Padre Wagner Augusto Portugal

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