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16º DOMINGO DO TEMPO COMUM – B

16º Domingo do Tempo Comum - Pastor Bonus“É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício, de dar graças ao vosso nome, porque sois bom.” (Sl 53,6-8)

Irmãos e irmãs,

Todas as vezes que encontramos uma pessoa doente ou com fome, naquilo que o Papa Francisco chama de pessoas nas periferias existenciais, a primeira atitude que devemos ter é a atitude que nos ensina Jesus neste domingo, a COMPAIXÃO.

Os apóstolos que voltaram para perto de Jesus estavam preocupados, depois de seu estágio pastoral, não com o que fizeram ou ensinaram. Eles estavam preocupados com o próprio e único Senhor Jesus. Era necessário voltar ao Mestre, buscar a fonte da vida. E, aqui, é necessário esse reencontro para que todos nós tenhamos certeza do necessário: agimos e trabalhamos em nome e na ação de Nosso Senhor Jesus Cristo. “O mandato apostólico foi dado por Jesus e é em seu nome que todos devem trabalhar a nova evangelização”. Por isso, “depois do estágio pastoral, Jesus convida seus discípulos para um descanso, ou seja, para um retiro espiritual, para que suas forças sejam revigoradas”.

Quando Jesus chegou com os seus apóstolos no lugar destinado para o retiro, acontece o inesperado: uma multidão comprimida espera por Jesus para vê-lo, para ouvi-lo, para compartilhar o seu sofrimento e sua caminhada. Nesse instante, Jesus nos ensina qual deve ser a atitude do cristão: a compaixão. Jesus deixa de lado o retiro e vai ao encontro do povo que está sedento da Palavra de Deus.

Meus prezados irmãos e irmãs,

No Evangelho de hoje (Mc 6,30-34), São Marcos emprega a palavra “apóstolo”. “É a única vez que o evangelista usa este termo que significa aquele que é enviado para uma missão. Aquele que vai em nome de alguém. Aquele que age em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

Ninguém é apóstolo por sua conta e por sua preferência. O apóstolo recebe o chamado e a missão que vêm de Deus e deve agir em nome do Onipotente, anunciando a todos os povos, não a sua mensagem, mas a mensagem de quem o enviou e de quem o apóstolo representa.

A finalidade principal do apóstolo é pregar a palavra de Deus, dando testemunho do que contêm as Sagradas Escrituras, indo de porta em porta anunciando o hoje da salvação. Por isso, o retiro para um lugar deserto que Jesus propõe no Evangelho tem uma grande motivação: para que os seus apóstolos rezem e estejam em íntima unidade com o projeto de Salvação, revigorados na sua missão para evangelizar. Por isso, meus irmãos, nós somos sempre convidados para rezar, para orar, pedindo a Deus força e luzes para continuar a nossa caminhada.

Meus irmãos,

As ovelhas que correm atrás de Jesus e pede que tenha para com elas um pouco de atenção são chamadas de “ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), ovelhas sem rumo certo, sem compromisso, aquelas que correm para ver se conseguem um novo rumo para a sua vida.

A primeira leitura (Jr 23,1-6) nos ensina que Deus é mesmo o Bom Pastor, aquele que conduz as suas ovelhas. O Novo Testamento demonstra que o Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, é o próprio Senhor Jesus. Falar do Bom Pastor é falar da meta básica da vida cristã, que é a unidade. A segunda leitura nos ensina que a unidade é importante e urge em nosso meio.

As ameaças contra os maus pastores apresentadas neste texto de Jeremias talvez nos tenham levado a pensar nos líderes do mundo, nos nossos governantes e, talvez também, nos líderes da Igreja. Na verdade, a nossa história recente está cheia de situações em que as pessoas encarregadas de cuidar da comunidade humana usaram o “rebanho” em benefício próprio e magoaram, torturaram, roubaram, assassinaram, privaram de vida e de felicidade essas pessoas que Deus lhes confiou. De qualquer forma, este texto toca-nos a todos, pois todos somos, de alguma forma, responsáveis pelos irmãos que caminham conosco. Convida-nos a refletir sobre a forma como tratamos os irmãos, na família, na Igreja, no emprego, em

qualquer lado. Recorda-nos que os irmãos que caminham conosco não estão ao serviço dos nossos interesses pessoais e que a nossa função é ajudar todos a encontrar a vida e a felicidade.

Do conjunto das leituras de hoje retiramos uma lição que merece muita reflexão de nossa parte: a reconciliação do homem com Deus o une com seus irmãos, com a sua comunidade. Na prática, porém, o homem, muitas vezes usa Deus para justificar discriminação, ódio, perseguição, pobreza, miséria, fome, etc. Jesus, entretanto, fez “dos dois um só povo”, “um só corpo”, “um só rebanho”, “um homem novo”, “em si mesmo”. Este único corpo é, ao mesmo tempo, o do Cristo e o da comunidade constituída por Ele. Ele veio a nós, dando-nos o poder de nos aproximar do Pai: movimento recíproco, cuja iniciativa está do lado da graça de Deus.

Acolher o povo de Deus, ensinar-lhe as coisas do Reino, tudo o que Jesus faz para o povo com vista ao Reino dos Céus é pastoral em proveito de Deus, é cuidar de seu rebanho. Por isso, Jesus dará a sua vida em benefício de toda a humanidade. O que faz algo ser pastoral não é nenhuma atividade determinada, mas o intuito com que ela é assumida: transformar um povo sem rumo em povo conduzido por Deus.

Assim, nesta missa, o importante não é multiplicar as atividades chamadas pastorais, mas cuidar de que os que as realizam tenham alma de pastor. E isso é muito fácil, basta acolher, ter liderança e amor, se necessário dando a própria vida pela evangelização, pela edificação do Reino de Deus.

Que todos nós possamos caminhar pela pastoral que nos conduz para o caminho de Deus, de seus mandamentos, de sua vida.

Caros irmãos,

A missão dos discípulos, que é a missão de todos os batizados, não pode ser desligada de Jesus. Os discípulos devem, com frequência, reunir-se à volta de Jesus, dialogar com Ele, escutar os seus ensinamentos, confrontar permanentemente a pregação feita com a proposta de Jesus. Por vezes, os discípulos (verdadeiramente comovidos com a situação das “ovelhas sem pastor”) mergulham num ativismo descontrolado e acabam por perder as referências; deixam de ter tempo e disponibilidade para se encontrarem com Jesus, para confrontarem as suas opções e motivações com o projeto de Jesus… Por vezes, passam a “vender”, como verdade libertadora, soluções que são parciais e que geram dependência e escravidão (e que não vêm de Jesus); outras vezes, tornam-se funcionários eficientes, que resolvem problemas sociais pontuais, mas sem oferecerem às “ovelhas sem pastor” uma libertação verdadeira e global; outras, ainda, cansam-se e abandonam a atividade e o testemunho… Voltemos nossos olhares e a nossa vida cotidiana para Jesus. Somente Jesus é que dá sentido à missão do discípulo e que permite ao discípulo, tantas vezes fatigado e desanimado, voltar a descobrir o sentido das coisas e renovar o se empenho.

Caros irmãos,

A Epístola de São Paulo aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias Igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma? em Cesareia?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60. Alguns teólogos vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que São Paulo sente ter terminado a sua missão apostólica na Ásia e não sabe exatamente o que o futuro próximo lhe reserva (recordemos que ele está, por esta altura, prisioneiro e não sabe como vai terminar o cativeiro).

O tema central da Carta aos Efésios é aquilo a que Paulo chama “o mistério”: o desígnio (ou projeto) salvador de Deus, definido desde toda a eternidade, escondido durante séculos aos homens, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos, desfraldado e dado a conhecer ao mundo na Igreja.

O texto que nos é aqui proposto integra a parte dogmática da carta. Depois de refletir sobre o papel de Cristo no projeto de salvação que Deus tem para os homens (cf. Ef 2,1-10), Paulo refere-se à reconciliação operada por Cristo, que com a sua doação uniu judeus e pagãos num mesmo Povo (cf. Ef 2,11-22).

A Segunda leitura de hodierna – Ef 2,13-18 – tem, em pano de fundo, essa verdade fundamental que a liturgia nos recorda todos os domingos: Deus tem uma proposta de salvação para oferecer a todos os

homens, sem exceção; e essa proposta tem como finalidade inserir-nos na família de Deus. A constatação de que para Deus não há distinções e todos são, igualmente, filhos amados – para além das possíveis diferenças rácicas, étnicas, sociais ou culturais – é algo que nos tranquiliza, que nos dá serenidade, esperança e paz. O nosso Deus é um pai que não marginaliza nenhum dos seus filhos; e, se tem alguma predileção, não é por aqueles que o mundo admira e endeusa, mas é pelos mais débeis, pelos mais fracos, pelos oprimidos, pelos que mais sofrem.

Caros irmãos,

A palavra fundamental da liturgia de hoje é a COMPAIXÃO! Jesus nos convida a ir a um lugar tranquilo, sereno, para conversar, encontrar as belezas de Deus presentes na vida de todos nós, na luta dos operários, no trabalho de um médico, de um construtor, no esforço de um jovem que busca emprego, de um recém-formado, de alguém que estuda para entrar na universidade. Quantas histórias lindas temos para perceber em nós e no nosso meio! Somos, todavia, demasiadamente ocupados com uma vida vazia.

Assim como agiu com seus discípulos, Jesus também nos indica o silêncio e o recolhimento, para ouvirmos melhor o próprio interior, onde Deus habita. A unidade e a reunião das “ovelhas dispersas” se iniciam desde dentro, quando acolhemos nossos fragmentos e nos integramos na fé, no Senhor. A partir daí, ajudamos essa unidade em Cristo a realizar-se em outras pessoas, nas nossas comunidades e na nossa sociedade.

A compaixão sentida por Jesus deve preencher nosso coração e nos deslocar para o encontro com o outro necessitado. Não apenas como mero sentimento, mas como jeito de ser e de agir. Há tantas pessoas por aí necessitando da compaixão de Deus!

Prezados irmãos,

Neste domingo contemplamos nas Escrituras a vida humana de Jesus, que teve um corpo, criou relações, agiu como humano e manifestou a presença de Deus por meio de sua existência carnal. Aprendemos a viver conforme sua vida, seguindo seus passos e praticando seus ensinamentos. A liturgia deste domingo nos apresenta a compaixão que Jesus experimentava diante da multidão que o seguia. As necessidades eram numerosas e de diferentes tipos (físicas, psíquicas, espirituais, materiais etc.), tal como vemos no mundo atual, com desigualdade social, guerra entre países e perda do sentido da vida.

Nossas realidades eclesiais e o mundo no qual vivemos estão repletos de pessoas que vivem como “ovelhas sem pastor”, sem maiores sentidos de vida, sem propósitos nem objetivos. A Palavra de Deus propõe um recolhimento e um encontro.

Não somos apenas uma carne para cuidar; somos seres humanos vivos, livres, conscientes e desejosos de transcendência. Jesus nos convida a ir a um lugar tranquilo, sereno, para conversar, encontrar as belezas de Deus que se manifestam na vida de todos nós, na luta dos trabalhadores, do jovem em busca de emprego, no esforço de muitos por justiça... Quantas histórias lindas temos para perceber em nós e no nosso meio! Contudo, somos demasiadamente ocupados com uma vida vazia.

Assim como agiu com seus discípulos, ele também nos indica o silêncio e o recolhimento, para ouvirmos melhor nosso interior, onde Deus habita. A unidade e a reunião das “ovelhas dispersas” se iniciam dentro de nós, acolhendo nossos fragmentos e nos integrando na fé, no Senhor. A partir daí, contribuímos para que essa unidade em Cristo se realize em outras pessoas, nas nossas comunidades e na nossa sociedade.

A compaixão sentida por Jesus deve preencher nosso coração e nos deslocar para o encontro com o outro que necessita de nós; não apenas como mero sentimento, mas como jeito de ser e de agir. Há tantas pessoas por aí necessitando da compaixão de Deus!

Meus irmãos,

Todos nós somos pastores uns dos outros, embora nossas áreas de atuação e o alcance de nosso trabalho sejam diferentes, cada qual de conformidade com a vocação que assumiu. Mas, os pastores não são donos do rebanho. O rebanho de Deus hoje é a Igreja, não mais limitada ao povo de Israel, mas aberta a todos os povos. Esse rebanho precisa de pastores santos e trabalhadores, que desapareçam para que o Cristo apareça.

Que todos nós possamos fazer como Jesus que, tendo compaixão, abandonou um retiro e se colocou do lado do povo. Bem razão tinha o grande Dom Eurico dos Santos Veloso, Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, ao advertir os seus novos padres que nunca deixem de dar uma bênção ou atender a um sacramental. O que o povo mais precisa é do carinho, da atenção e do amor de seus pastores, pastores e fiéis comprometidos com a construção aqui e agora da Jerusalém Celeste.

Rezemos, pois, para que o Senhor da Messe e Pastor do Rebanho faça florescer cada vez mais santas vocações para o ministério sacerdotal e para o ministério batismal, num mundo onde todos possam dar testemunho do Cristo Ressuscitado, o pastor por excelência, Amém!

Padre Wagner Augusto Portugal

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