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SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

 Dia de São Pedro e São Paulo: Apóstolos de Cristo e propagadores do  cristianismo – Bernadete Alves

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus.”

Meus queridos irmãos em Cristo Senhor,

A solenidade deste domingo é muito cara a toda a vida cristã. Celebramos as duas colunas mestras de nossa Santa Igreja: São Pedro – o primeiro apóstolo e o primeiro papa – e São Paulo – que de perseguidor converteu-se no maior seguidor de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em tempos em que muitas pessoas estão preocupadas com a busca desvairada do poder sem escrúpulos, sem motivações de serviço, é bom salientar que o poder na Igreja vem de Deus a serviço de Seu bom povo, assim nos ensina as Sagradas Escrituras, a Tradição da Igreja e o Magistério Pontifício.

O poder na Igreja é serviço, é doação, é multiplicação de dons. Por isso, é necessário que nesta Santa Missa nos enfronhemos na imensidão da grandiosidade das duas colunas da Igreja: Pedro e Paulo.

Caros irmãos,

Pedro e Paulo. Cada qual com sua personalidade e missão, são considerados os dois pilares da Igreja. Embora tenham sido martirizados, em datas diferentes, sob imperadores romanos que ordenaram a perseguição aos cristãos em todo o Império Romano no primeiro século, são venerados juntos, em 29 de junho ou no domingo próximo. A primeira leitura nos fala sobre a miraculosa fuga de Pedro da prisão, pois um anjo veio e o libertou. A segunda leitura apresenta, em forma de testamento, o olhar retrospectivo de Paulo sobre como ele respondeu ao chamado de Jesus Cristo e se comprometeu com o Evangelho. O Evangelho segundo Mateus nos mostra por que o apóstolo Pedro é tão importante em nossa história cristã: ele proclama claramente que Jesus é o Cristo e o Filho do Deus vivo. Jesus, por sua vez, diz que estabelecerá sua Igreja sobre a pessoa de Pedro, identificado com a firmeza de uma rocha.

Irmãos e irmãs,

Pedro foi o responsável pela fé de seus irmãos. Jesus lhe dá o nome de Pedro, significando que sua vocação é ser pedra, rocha, para que sobre ele seja edificada a comunidade daqueles que aderem a Cristo na fé. O príncipe dos apóstolos deverá dar firmeza aos seus irmãos.

Quando Jesus disse que Pedro era a pedra, vaticinou com uma doce promessa: o poder das chaves para abrir as portas, as portas do céu e as portas do inferno. Por Pedro passa a grandiosidade do caminho escatológico da salvação, o caminho que cada um irá trilhar, para receber, depois de sua peregrinação nesta terra, o prêmio de sua caminhada. “Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18).

E como teríamos a certeza de que nem as potências do inferno venceriam o ministério de Pedro?

A primeira leitura de hoje vem nos dar a resposta (At 12,1-11). O anjo de Deus tirou Pedro da prisão, mandando que se abrissem as portas de bronze para que o primeiro apóstolo continuasse a sua missão de dar testemunho do Cristo Ressuscitado. Isso porque ele tem o poder das chaves, o poder de ligar e de desligar. Ele é o administrador, aquele que nos dá a senha para entrarmos no Reino das Bem-aventuranças.

Na medida em que a Igreja Católica é a realização do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os Santos Padres os Papas, são dispensadores e administradores desta parcela do Povo de Deus. Cabe a Pedro e aos seus legítimos sucessores a última responsabilidade do serviço pastoral. Respondendo pela comunidade de fiéis, administra ou governa as responsabilidades pastorais e a evangelização.

O poder do primeiro apóstolo vem de Deus. Não é um poder ditatorial ou inquisitorial, mas um poder que é serviço, que é diaconia, testemunho, responsabilidade pastoral, voltado totalmente para a orientação dos fiéis para a vida em Deus, para a santificação, para trilhar os caminhos de Cristo.

Meus irmãos,

Paulo foi o fundador carismático e o evangelizador por excelência da Igreja de Cristo. Sua vocação se manifesta na visão do Divino Redentor, no caminho de Damasco. De algoz, de perseguidor dos cristãos, transforma-se em mensageiro de Cristo, em apóstolo fiel. Paulo deu testemunha das maravilhas do Senhor Jesus até os confins de toda a terra. Suas cartas são verdadeiros planos e metas de pastoral que encantam a todos quantos, de maneira generosa e solícita, se colocam na escuta da Palavra de Deus e na vivência das verdades evangélicas.

Pedro foi o pastor solícito, garantindo nossa fé católica e apostólica. Na pessoa de Pedro destaca-se o pastor da comunidade de fiéis, referência da fé para os irmãos, cuja prisão é motivo de temor. Mas, por ela, a comunidade mostrou-se unida a ele, orando pelo pastor e se alegrando com a sua libertação, obra e graça benevolente do Senhor Jesus.

Paulo foi o missionário, o apóstolo das gentes, dos crentes e não crentes, que viaja peregrino formando comunidades e fazendo expandir a fé em todas as nações, vencendo as temeridades, clareando a ignorância, distraindo as perseguições, sem nunca se desanimar diante dos temores, um exemplo oportuno para a realidade em que vivemos: anunciar o Evangelho sem temor, destemidamente.

Meus irmãos,

No Evangelho (Mt 16,13-19), São Pedro responde pela fé de seus irmãos. Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa pedra. Este nome é uma vocação: Simão passa a ser a “pedra”, que deve dar solidez à comunidade cristã. Esta nomeação vai

acompanhada de uma promessa e de uma autoridade, a de ligar e de desligar, a de unir e a distinguir o que está de acordo com o Plano da Salvação e o que lhe fere.

O Evangelho da celebração desta solenidade fala da missão que todos devemos abraçar, a missão de aderirmos à fé em Jesus, anunciando-a em todos os lugares, a todas as gentes. Não se trata de um anúncio abstrato, mas a proclamação de uma pessoa que caminhou e caminha conosco há dois mil anos: “Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt16,16).

Ao perguntarem-nos sobre nossa catolicidade, devemos ter orgulho de responder ao interlocutor sobre nosso Deus: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Jesus declarou no Evangelho que Simão professou esta confissão de fé com o auxílio da graça de Deus. Que o mesmo auxílio do Pai Divino nos acompanhe em nossa vivência eclesial, para que a messe do Senhor seja provida de santos e puros sacerdotes, doutos em humildade e ricos em sabedoria, para que possam ser outros Pedro e Paulo na condução da fé: um novo Pedro como bom pastor que conhece e conduz as suas ovelhas e um destemido Paulo que dá testemunho e busca todos os meios para anunciar a Boa-nova de Cristo.

Prezados irmãos,

A Segunda Leitura (cf. 2Tm 4,6-8.17.18) apresenta o testamento de Paulo. O Apóstolo pressente próxima a sua morte e dá-nos a conhecer o seu estado de espírito: sente-se só e abandonado pelos irmãos, mas não vítima, porque a sua consciência está tranquila e o Senhor está com ele. Guardou a fé e cumpriu a sua vocação missionária com fidelidade. Compara-se à libação derramada sobre as vítimas nos sacrifícios antigos. Quer morrer como viveu, isto é, como verdadeiro lutador, uma vez que se entregou a Deus e aos irmãos. A vitória é certa! As suas palavras são já um cântico de vitória, porque está próximo o seu encontro com Cristo Ressuscitado.

A vocação de Paulo se deu por ocasião da aparição de Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, Paulo se transformou em apóstolo e realizou, mais do que os outros apóstolos, a missão de ser testemunha de Cristo até os confins da terra (cf. At 1,8). São Paulo foi Apóstolo dos pagãos, tornou realidade a universalidade da Igreja, da qual Pedro é guardião.

Prezados irmãos,

Pedro é o continuador de Cristo, o substituto, o vigário de Cristo. É de certo modo o Cristo velado, como na Eucaristia. O seu ensino é o de Cristo. É o instrumento do Coração de Jesus… Nosso Senhor prometeu antecipadamente a Pedro a sua primazia, que é a continuação do poder de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as potências do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares será ligado e tudo o que desligares será desligado” (Mt 16, 19). “Quando fores convertido, confirmarás os teus irmãos” (Lc 22, 32). Quando chegou o dia, Nosso Senhor realizou a sua promessa. Transmitiu a Pedro a sua autoridade de pastor: “Pedro, porque me amas muito, porque me amas mais do que os outros, apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas”. Pedro, pastor supremo da Igreja, é depositário e administrador de todos os dons do Coração de Jesus. Preside à administração dos sacramentos. Abre e fecha o tesouro do Coração de Jesus. Que respeito, que obediência devo a Pedro e aos seus sucessores.

Caros irmãos,

A Igreja se constituiu a partir daqueles primeiros discípulos e foi se ampliando pelos séculos até nossos tempos. Atualmente, formamos a comunidade que segue o caminho de/com Jesus e ouve a Palavra de Deus com a mesma indagação: “O que você diz que eu sou?” Unidos aos apóstolos Pedro e Paulo e à Tradição eclesial, renovamos nossa profissão de fé em Jesus. Ao reconhecermos quem ele é, ouvimos também quem somos para ele, nossa importância para a edificação da Igreja, sacramento do Reino de Deus no mundo. Por causa desta solenidade, recordamos hoje o “dia do papa”. Quando iniciou seu pontificado, em um gesto memorável, o Papa Francisco pediu que todos rezassem por ele. O Papa constantemente pede que continuemos rezando pelo seu ministério. A oração nos une em um mistério de comunhão de amor com Deus e uns com os outros. Assim, formamos a Igreja que segue a Jesus, professa a fé e se mantém em oração e comunhão até a plenitude do Reino.

Prezados irmãos,

As leituras da solenidade de São Pedro e São Paulo apóstolos nos convidam, como membros batizados da Igreja, a viver as dimensões tanto do testemunho de Pedro quanto do de Paulo em nossa vida. Somos chamados a ser uma rocha forte, estável, segura e, ao mesmo tempo, ter o espírito missionário. Esses dois apóstolos, que deram grande testemunho de fé em Jesus Cristo, tinham origens completamente diferentes; um era pescador, o outro um estudioso, profundo conhecedor das tradições de seu povo. Um caminhou pessoalmente com Jesus por anos, o outro o encontrou após a ressurreição. Nem sempre concordavam. Porém, suas vidas e ministérios tinham paralelos notáveis. Seus caminhos nem sempre foram fáceis: ambos foram aprisionados várias vezes; ambos foram libertados milagrosamente da prisão; ambos dedicaram a vida inteira à construção da Igreja; e ambos deram a vida como mártires da fé.

Mesmo que Pedro e Paulo sejam diferentes, são necessários na Igreja, porque se complementam. Precisamos de estabilidade, simbolizada por Pedro, e de mobilidade, caracterizada por Paulo. Ambos os dons são necessários, e por isso é importante vê-los como partes do corpo que trabalham juntas para um propósito. Somos uma comunidade de pessoas, e alguns de nós gostam de viajar como missionários, enquanto outros preferem ficar em casa.

Assim como o Senhor chamou São Pedro e São Paulo de maneiras diferentes, somos chamados de várias maneiras para segui-lo ao longo de nossa vida. Não podemos ignorar esse chamado. Cumpre-nos ouvi-lo e responder generosamente. Como São Paulo, lutemos a boa luta, correndo em direção à linha de chegada, perseverando na nossa fé.

Queridos irmãos,

Domingo de Pedro e Paulo é domingo do Papa. Volvemos nossos olhares e nossas preces ao Sumo Pontífice Francisco, que no anúncio da fé católica e apostólica vem garantindo nossa fé e dando testemunho ao mundo do Senhor Ressuscitado. Assista ao Santo Padre as luzes do Espírito Santo, para que o Evangelho seja nossa meta de vida. Devemos crescer na obediência adulta, sem mistificação da autoridade Pontíficia, nem anarquia. O governo pastoral do Papa é um serviço legítimo e necessário na Igreja. O importante é que o Papa é aquele que tem a última palavra deve ser o primeiro a

escutar as penúltimas palavras de muita gente. Que o exemplo e o testemunho das colunas da Igreja nos leve ao final de nossa peregrinação cantar como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira e preservei a fé” (2Tm 4,7). Amém!

Padre Wagner Augusto Portugal.

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