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Vigília da Solenidade da Natividade de São João Batista – B

“Ele será grande diante do Senhor; estará cheio do Espírito Santo desde o seio materno, e muitos se alegrarão com seu nascimento” (Lc 1,15.14).

No plano divino da salvação, João Batista é escolhido por Deus para ligar o Antigo ao Novo Testamento. Ele vem preparar os caminhos para o Messias prestes a chegar. Abramos o coração para acolher “o maior dos profetas”, com seus sólidos ensinamentos e corajoso testemunho de vida.

O culto a São João Batista remonta aos primeiros séculos do cristianismo. João é filho de Zacarias, o mudo, e de Isabel, a estéril. A celebração desta Solenidade é, junto com as do nascimento de Jesus e de Maria, a única festa litúrgica que a Mãe Igreja dedica ao nascimento de um santo. João Batista é enviado para endireitar os caminhos do Senhor. A seu exemplo, sejamos, pela coerência entre fé e vida, autênticos anunciadores do Reino no meio em que vivemos.

João nasceu em Aim Karim, cidade de Israel que fica a 6 quilômetros do centro de Jerusalém. Seu pai, Zacarias, era um sacerdote do templo de Jerusalém. Sua mãe, Isabel, era prima de Maria, Mãe de Jesus. João foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Em sua missão de adulto, pregou a conversão e o arrependimento dos pecados. João batizava o povo. Daí o nome João Batista, ou seja, aquele que batiza. Ele é muito importante no Novo Testamento, pois foi o precursor de Jesus, anunciou a sua vinda e a salvação que o Messias traria para todos. É também o último dos profetas. Sua mãe, idosa, nunca tinha engravidado. Era tida como estéril. O anjo Gabriel, então, apareceu a Zacarias quando este prestava seu serviço de sacerdote no templo e anunciou que Isabel teria um filho e que este deveria se chamar João. Zacarias não acreditou e ficou mudo. Pouco tempo depois, Isabel engravidou como o Anjo havia dito.

O nascimento de João o Batista está repleto de milagres. Um arcanjo anunciou a vinda de Nosso Senhor e Salvador, Jesus; igualmente, um arcanjo anuncia o nascimento de João (Lc 1, 13) e diz: “será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe” (Lc 1, 16). O povo judaico não via que Nosso Senhor realizava “milagres e prodígios” e curava muitas doenças, mas João exulta de alegria estando ainda no seio materno; não se consegue detê-lo e, à chegada da mãe de Jesus, a criança tenta sair do seio de Isabel: “Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1,44). Ainda no seio de sua mãe, João recebeu o Espírito Santo.

João Batista é a resposta de Deus aos anseios do povo, após um silêncio de quase três séculos! Inspirados por Deus, todos os profetas haviam falado deste tempo novo, para consolar e fortalecer um povo desiludido, desmotivado, esmorecido e sem esperança, certamente esses profetas foram tidos como loucos, sonhadores, fantasiosos, mas muitos guardaram no coração essas promessas, e souberam transmiti-las de geração em geração, sem deixar morrer a esperança, o próprio Zacarias, sacerdote do templo e pai de João Batista, faz parte deste povo que espera, seu nome significa “Deus se recordou”.

A sua súbita mudez, longe de ser um castigo, é prenúncio do tempo feliz que com ele irá se iniciar, e ao apresentar a criança no templo, para ser circuncidado como

era costume, ele confirma o nome de “João” que significa “Aquele que anuncia” e recuperando a voz glorifica a Deus que visitou o seu povo.

Caros irmãos,

João Batista é o único santo, além da Mãe do Senhor, a Bem Aventurada Virgem Maria, de quem se celebra, com o nascimento para o céu, também o nascimento segundo a carne. Foi o maior entre os profetas (Lc 7,26-28), porque pôde apontar o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29.36). Sua vocação profética desde o ventre materno reveste-se de acontecimentos extraordinários, repletos de júbilo messiânico, que prepararam o nascimento de Jesus (cf. Lc 1,14.58). João Batista é o Precursor de Cristo pela Palavra e pela vida (Mc 6,17-29). O batismo de penitência que acompanha o anúncio dos últimos tempos é figura do Batismo segundo o Espírito (Mt 3,11). A data da festa, três meses após a Anunciação e seis meses antes do Natal, corresponde às indicações de Lucas (Lc 1,36.56-57).

Prezados irmãos,

Ao precursor de Jesus a liturgia aplica a palavra dirigida a Jeremias: “Antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações” (Jr 1,5).

Na primeira leitura – Jr 1,4-10 – não é casual a escolha desta leitura que relata a vocação do Profeta Jeremias. Foi escolhida pela alusão que se quer ver à santificação de João no ventre materno: “antes que saísses do seio da tua mãe, Eu te consagrei” (cf. Lc 1, 44). 6 “Mas eu não sei falar”. É a reação habitual do homem, quando se enfrenta com a vocação divina, a chamada a uma missão que exige a entrega de toda a vida a Deus para O servir numa missão que transcende a nossa limitação e franqueza. Mas a uma primeira reação de medo segue-se uma certeza, segurança e serenidade que Deus infunde: “Eu estarei contigo!” (v. 8).

A vocação de Jeremias vem do próprio Deus. Antes mesmo de nascer, o profeta já havia sido escolhido pelo Senhor para anunciar a sua salvação e denunciar as injustiças presentes nas realidades do povo. Sua missão é arrancar a maldade e plantar, em seu lugar, a paz e o amor divino.

O Salmo Responsorial – Sl 70 – canta: “Desde o seio maternal, sois meu amparo”. Este Salmo uma oração de louvor e gratidão a Deus, onde o salmista expressa sua confiança e alegria no Senhor. Ele reconhece a proteção divina, a bondade de Deus e a necessidade de buscar refúgio Nele em todos os momentos.

Caros irmãos,

Na segunda leitura – 1Pd 1,8-12 – São Pedro lembra aos primeiros cristãos que a mensagem da Salvação lhes foi anunciada por aqueles que lhes pregaram o Evangelho com a assistência do Espírito Santo. São João Batista foi o precursor: ele veio aplanar os caminhos do Senhor.

8-9 “Vós amais Cristo Jesus... acreditais nele...” Estes cristãos da Ásia Menor a quem São Pedro se dirige, como também nós, já não conheceram Jesus na sua vida mortal, mas exatamente como nós hoje e os cristãos de todos os tempos acreditavam em

Jesus Cristo e amavam apaixonadamente a sua pessoa adorável como alguém que está vivo e atuante, enchendo-nos daquela alegria inefável que procede de sabermos que a nossa fé vai desembocar na visão da glória, o fim da nossa fé, a salvação das nossas almas.

10 “Os profetas”, mais provavelmente os do Antigo Testamento.

12 Os Anjos, ao tomarem conhecimento do plano de salvação da humanidade, extasiam-se a contemplá-lo com atenção na vida da Igreja (cf. Ef 3, 10).

A primeira carta de Pedro faz uma inversão: Deus elege os marginalizados e excluídos como seu povo eleito. As pessoas que não eram reconhecidas nem tinham cidadania, a partir da eleição de Deus tornam-se cidadãs e pedras vivas na construção da casa de Deus (1Pd 2,5-10). O termo “eleito” vem da tradição judaica e apresenta a relação amorosa de Deus com o seu povo (Dt 7,6; Is 43,20). A eleição do novo povo é obra da Trindade. Vamos, passo a passo, entender essa afirmação?

Eleição de Deus Pai: a escolha do novo povo é segundo o conhecimento antecipado de Deus — a presciência. Essa ideia é usada em 1,2 e 1, 17. Deus, por sua gratuidade e amor, escolhe as pessoas para a salvação (1Pd 2,8).

Prezados irmãos,

No Evangelho – Lc 1,5-17 – São Lucas, de início, apresenta os pais do menino que irá nascer: Zacarias e Isabel, os justos tementes e obedientes aos mandamentos de Deus. O anjo se apresenta a Zacarias para lhe anunciar o nascimento de João – cujo nome significa “Deus é graça misericordiosa”. Diz-lhe que Deus ouviu a sua súplica e, através de seu filho, nascido de sua esposa estéril e anciã, começará a cumprir as promessas de libertação de seu povo. João será, então, motivo de alegria para os pais e para todos os que esperavam a manifestação da misericórdia salvadora de Deus! João será grande diante do Senhor, pois será o profeta que preparará o povo para a chegada e ministério do Messias Jesus. Será grande profeta, cumprindo a missão de reconduzir o povo ao Senhor Deus, convertendo os corações ao amor e à sabedoria. João, como Sansão (Jz 13,14) e como os sacerdotes (Lv 10,8-9) “não beberá vinho nem bebida fermentada”. João, no entanto, não exercerá nenhuma atividade armada como Sansão, nem exercerá funções sacerdotais. Lucas apenas informa, então, que João será um consagrado a Deus, pertencerá a Deus e agirá pela força profética do Espírito Santo. Nós, também, somos consagrados ao Senhor pelo Batismo e revestidos do Espírito Santo.

Este Evangelho, que se situa no bloco da “Infância de Jesus”, marca a passagem do “antigo” para o “novo”. O anúncio do nascimento de João Batista, o último dos profetas é um milagre divino e que prepara a contemplação do nascimento do Messias Jesus. A história da salvação se aproxima do seu ápice: o nascimento do Precursor trará alegria e felicidade!

Por exercer as funções sacerdotais, Deus olhou misericordiosamente pelas orações de Zacarias e cumpriu a promessa aos homens justos e tementes a Ele. Esse

casal, Zacarias e Isabel, vivia uma vida que, para Deus, era correta, pois obedecia a todas as leis e mandamentos do Senhor.

Por meio do anjo Gabriel, extraordinariamente, Deus anuncia o nascimento de João Batista, pois Isabel era já de idade avançada. Tocou-lhe exercer o seu ministério enquanto oferecia o sacrifício divino pelos pecados do povo e também dos seus.

Dentro desta dinâmica, Deus resolve atender, dentre outros, os pedidos do próprio Zacarias. Conceder-lhe um filho, que, por providência divina, nasce de uma mulher da estirpe de Aarão, cujo nome é Isabel. Pela razão aludida acima, Deus realiza o impossível na vida de homens de fé e, se aparece alguma dúvida apesar da fidelidade, Ele manifesta o seu poder sobrenatural.

O povo, rezando do lado de fora, esperava que ele saísse depois do incenso. Enquanto isso, o anjo de Deus se aproxima e conversa com Zacarias. E o conteúdo da conversa é: Não tenha medo, Zacarias, pois Deus ouviu a sua oração! A sua esposa vai ter um filho, e você porá nele o nome de João. Neste filho se vê, antecipadamente, o anúncio do nascimento do Messias, o Emanuel. Ele será mandado por Deus como mensageiro e será forte e poderoso como o profeta Elias. Ele fará com que pais e filhos façam as pazes e que os desobedientes voltem a andar no caminho direito. E conseguirá preparar o povo de Israel para a vinda do Senhor.

Para Lucas, as aparições de anjos são o sinal de que caíram as antigas barreiras entre o céu e a terra, ou, pelo menos, estão por cair, como neste caso. A iniciativa parte de Deus, porque tudo o que é grande vem d’Ele. Zacarias, ante a impossibilidade humana, expressa a pouca fé nas coisas altas e profundas. Ainda não sentiu que para Deus nada é impossível e que seu poder começa onde a fraqueza humana mostra os limites de suas possibilidades. Como resultado do seu comportamento, ele fica mudo até que a profecia se cumpra. Porque para Deus nada é impossível. Tanto tempo, muita demora e, como agravante, aprece mundo. O povo reage desesperadamente. Como se comunicar com ele? O que será isso? Que milagre terá acontecido? Por inspiração divina, chegam à conclusão de que teria tido uma visão. Deus lhe teria falado.

Caríssimos irmãos, assim como a primavera traz belas e perfumadas flores, esta Vigília Solene de São João Batista nos traz vida. Somos chamados com todo o rigor à conversão, à mudança de nossa vida. É preciso que mudemos, de verdade, o nosso modo de agir e penetremos mais firmemente no caminho do Reino. Se João Batista nos chama à conversão, Jesus, por sua vez, chama-nos e convida a tomar parte no Reino. Se quisermos, verdadeiramente, encontrar Deus, temos de nos converter profundamente. Acolhamos a voz do anjo que nos anuncia a chegada do Deus menino. Tenhamos uma fé firme e forte, que supere a de Zacarias. Pois Ele foi norteado somente pela esperança profética. Nós sabemos e temos provas concretas da presença de Deus no mundo. “Aquele que há de vir, chegará sem demora: já não haverá mais temor entre nós, porque Ele é o nosso Salvador ” (Hb 10,37).

Assim, neste dia, somos chamados-vocacionados a nos imbuir da graça batismal e, como consagrados, a exemplo de João Batista, a levar a termo a missão a nós conferida. A nossa missão é anunciar a pessoa de Jesus Cristo e viver, na fé, seu Evangelho!

São João Batista, rogai por nós!

Padre Wagner Augusto Portugal

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